O interior do Brasil apresenta expressivo potencial de crescimento. A estimativa é que até 2020 os consumidores residentes nesses locais gastem US$ 60 bilhões em compras, o que representaria crescimento de 45% para o varejo.

Essa alavancagem do comércio, segundo analistas ouvidos pelo DCI, virá das operações regionais onde o atendimento diferenciado do comerciante vai se sobressair, mesmo perante a grandiosidade de certos players. “O consumidor do interior está acostumado com o caixa do supermercado que sabe o seu nome. Ele liga para o proprietário da padaria, faz seu pedido e ainda pendura a conta em cadernetinhas. Nenhuma grande rede será capaz de superar isso”, afirma o especialista em varejo Fred Rocha.

A respeito do volume de consumo até 2020, a estimativa de crescimento foi feita pelo The Boston Consulting Group (BCG) e identificou ainda que, para as grandes redes conseguirem se expandir para esses locais, elas terão barreiras a serem quebradas: entender o consumidor local e administrar a distribuição e a logística. “O interior tem acesso mais difícil e é mais caro atender com a cadeia típica de fornecimento do varejo”, aponta a BCG.

Polo comercial

Além do canal on-line, que supre boa parte da demanda de consumo em regiões do interior, o grande varejo pode apostar em cidades em que o retorno do investimento é mais viável. “Acima de 150 mil habitantes é um local com potencial para os grandes. Abaixo de 100 mil, o ideal seria ir para locais próximos ou a cidades consideradas polos produtivos”, enfatiza Rocha.

Força regional

Para o coordenador do núcleo de estudos e negócios do varejo da ESPM, Ricardo Pastore, já existem casos emblemáticos de redes regionais que se expandem pelo interior. “No setor supermercadista do Sul do País temos a rede Condor Super Center, com expansão significativa pelo interior. Temos também a sulista Havan, loja de departamentos que foca as novas unidades nesses locais também”, explica. Só a Havan soma 92 filiais.

Pastore afirma ainda que as principais redes varejistas – Grupo Pão de Açúcar (GPA) e Carrefour -, e de outros segmentos investiram muito no interior de São Paulo, Rio de Janeiro e demais regiões do Sudeste. “Algumas varejistas foram seguindo os shopping centers, como por exemplo a C&A e a Renner, lojas chamadas de âncoras pelos centros de compras”, diz Pastore.

Ainda segundo o especialista, outro segmento que também tem aproveitado esse movimento é o de home center. “Tem muitos que estão indo para regiões mais afastadas.”

Resiliência

Diferentemente das grandes capitais, em que o desligamento de funcionários está mais evidente nesse momento de retração econômica, o interior, por ter sua economia atrelada à cadeia produtiva do agronegócio, mostra mais resistência nesse período. “Eles não têm mais de 50 funcionários por loja, no máximo dois. Além disso, a economia local é menos afetada pela crise, assim como o consumo”, diz o especialista Fred Rocha.

Segundo ele, o trabalho do Sebrae também é de extrema importância para esse pequeno varejista. “Eles estão com a campanha ‘compre do pequeno produtor’, que pode ajudar a desenvolver a economia das cidades interioranas e alavancar o consumo”, diz.

No entanto, na opinião de Pastore, do núcleo de varejo da ESPM, não é possível generalizar. Para ele, existem regiões interioranas em que a economia, assim como nas maiores capitais, está baseada na indústria. “Deve-se analisar o contexto. Hoje, os atrelados ao agronegócio estão bem.”