por Renata Andrade

“O mundo todo é hostil” canta Marcelo Camelo, ex-integrante da banda Los Hermanos. Uma pessoa hostil normalmente coleciona inimizades porque age com rudeza, com grosseria sem se preocupar se pode estar magoando os outros. Por que tamanha hostilidade? Hoje, 16 de novembro, é Dia Internacional da Tolerância. A data promove o bem estar, o progresso e a liberdade de todos os cidadãos estimulando o respeito, o diálogo e a cooperação entre diferentes culturas, religiões e civilizações.

Com a globalização, a pluralidade cultural que existe no mundo se tornou ainda mais interligada, exigindo uma maior compreensão das pessoas em respeitar os diferentes modos de viver de cada um. Não significa que devemos aceitar as ideias ou doutrinas de todas as sociedades, mas apenas aprender a respeitá-las e conviver com as diferenças.

Atualmente, a intolerância entre as pessoas acontece em níveis altíssimos nas mídias sociais. A internet deveria ser o caminho da disseminação das informações transformadoras, mas tem sido canal de propaganda à violência moral, étnica, sexual e simbólica. Segundo dados da ONG SaferNet, entre 2010 e 2013, aumentou 203% o número de páginas denunciadas por divulgar neonazistas, xenófobos, homofóbicos, de intolerância racial ou religiosa e apologia e incitação a crimes contra a vida. Em 2003, foram mais de 21 mil casos, dos quais 11.004 estavam no Facebook, a rede social mais usada pelos brasileiros.

Houve um aumento de 265% no número de perfis com mensagens violentas apenas no Facebook. Casos de racismo predominam entre elas, com mais de 6 mil páginas identificadas seguida por apologia e incitação a crimes contra pessoas, como assassinatos, tortura, suicídio e linchamento.

Nos últimos dias, a atriz global Taís Araújo, sofreu um ataque de xingamentos racistas ao compartilhar uma foto dela mesma em sua rede social. “Pode ser mais clara?”, “Como pode alguém achar bonito esse cabelo de Bombril?”, “Me empresta seu cabelo para lavar louça”, foram uns dos comentários, todos eles com mais de mil curtidas. A atriz decidiu se manifestar. “Se a minha imagem ou a imagem da minha família te incomoda, o problema é exclusivamente seu! (…) Só assim vamos construir um Brasil mais civilizado”, postou em sua página.

A injúria racial está prevista no Código Penal, associada ao uso de palavras que depreciam a pessoa pela cor da pele, raça, etnia, origem e religião. O Código Penal prevê pena de prisão de um ano a três anos, além de pagamento de multa. Já o crime de racismo, previsto na Lei Federal 7.716/1989, atinge uma coletividade de indivíduos. É um crime inafiançável e imprescritível. Contudo, ele não acontece somente com famosos.

Para a psicóloga Maria Alice Motta, esse comportamento agressivo nas mídias sociais é fruto do passado. “O Brasil passou por duas grandes ditaduras. A postura autoritária do governo ficou marcada na nossa história. Isso foi se atenuando ao longos dos anos, e agora, estamos vivendo um período em que as pessoas se sentem à vontade para falar o que pensam sem medo”, diz. Segundo Maria Alice, é o que acontece atualmente com a popularização da internet. “O exercício de democracia é muito recente. As pessoas se sentem protegidas por essa ilusão de anonimato que a internet traz”, afirma.

Essa necessidade constante de perturbar o outro, para a psicóloga Maria Alice, é um comportamento imaturo. “É também uma forma dele não ser ignorado. As pessoas são imaturas e querem ser vistas por todos. Mas ignora completamente o outro. Ter empatia é uma habilidade social que precisa ser desenvolvida e ensinada”, certifica. Para Maria Alice, a sociedade tenta achar sempre alguma doença no indivíduo que comete essas ações. “Não questionam o motivo desses comportamentos serem produzidos. É mais conveniente para a sociedade taxá-los como problemáticos”, completa.

Nos últimos dias, uma discussão acirrada aconteceu no Facebook. Algumas pessoas trocaram suas fotos de perfil para as cores da bandeira francesa como forma de homenagem ao país que sofreu um atentado terrorista nessa última sexta-feira (13), deixando muitos mortos e feridos. As críticas vieram à tona pelo suposto esquecimento dos amigos sobre a tragédia em Mariana, interior de Minas Gerais, ocorrida nesse mês. A cidade foi devastada após duas barragens de uma mineradora da região se romperem. Lama e dejetos da mineração deixaram o município inteiro destruído.

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