Ex-presidente do Banco Central nos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, Henrique Meirelles se tornou ministro da Fazenda do presidente em exercício, Michel Temer, na última quinta-feira (12). Em entrevista ao Fantástico, Meirelles respondeu perguntas da repórter Poliana Abritta e de brasileiros em várias cidades do país. Confira trechos da entrevista:

Poliana: Eu tô aqui com o novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Ministro, obrigada por nos receber aqui. Eu imagino que o senhor tá ainda tomando pé das coisas. O gabinete tá ainda todo vazio, né? Como que o senhor se sentiu? O senhor que hoje tem nas mãos o maior problema que o Brasil tem, que é a economia.
Meirelles: É uma posição de muita responsabilidade. A situação de fato do país é muito difícil. Todos tão sentindo isso no seu emprego, naqueles amigos, parentes, ou na própria pessoa que perdeu o emprego, a inflação elevada, as coisas cada vez mais caras, a renda não acompanhando, os empresários tendo dificuldade.

Poliana: Qual é na opinião do senhor o maior desafio?
Meirelles: O problema do Brasil foi uma questão de confiança. Por exemplo, se eu como consumidor compro menos, você como comerciante vende menos. Já que você vende menos, você começa também a comprar menos. No que você está comprando menos, você pode de fato demitir um funcionário.

Poliana: Ministro, todo mundo fala em crise, os discursos falam em crise. Crise é uma palavra que tá na boca do povo. O Fantástico percorreu cidades brasileiras e ouviu dos brasileiros as principais dúvidas. As pessoas vão participar junto comigo dessa entrevista com o ministro Henrique Meirelles. Vamos pra primeira pergunta:

O desemprego tá preocupando muito a população ultimamente. O que que você pretende fazer pra barrar o desemprego?

Poliana: A gente vê aí que o desemprego não é uma preocupação à toa das pessoas. Já são mais de 11 milhões de desempregados hoje no Brasil. E aí, ministro?
Meirelles: Para nós resolvermos um problema, nós temos que entender o que causou o problema. Então o que que está causando o aumento do desemprego. É exatamente por que as empresas tão vendendo menos, portanto produzindo menos, portanto demitindo funcionários. Toda vez que se demite alguém, tem mais uma pessoa, um pai de família, uma mãe de família desempregado. Nós temos que fazer com que a economia volte a andar. Temos que fazer com que de novo a produção aumente, as vendas aumentem, em função disso as empresas contratem as pessoas. Todos temos pressa, mas pra isso nós precisamos tomar medidas fortes, medidas que de fato façam efeito.

Polina: Que tipo de medidas, ministro?
Meirelles: Por exemplo, a questão das finanças públicas. Agora o que nós temos que fazer é exatamente controlar estas despesas principalmente aquelas despesas que não são tão necessárias. Não estamos falando nos programas sociais. Não, porque isso é absolutamente necessário. Mas por exemplo existem muitas coisas: aumento de despesa por aumentos de salários, de determinados tipos de funcionários que não necessariamente poderiam ser justificável pelo aumento das receitas, outros tipos de gastos, em resumo, que não eram necessários. Portanto é isso que tem que ser feito. Tem que se baixar as despesas e colocar cada vez mais próximo do que o país ganha e que o governo arrecada.

Poliana: Mas nesse momento a gente tem ainda uma expectativa de aumento desse desemprego por um período, né, ministro?
Meirelles: Sim, porque é como um carro… Imagine um ônibus que vem numa certa velocidade porque tava acelerando, mas de repente, resolve-se frear. Mesmo aplicando um freio, no caso, no desemprego, o ônibus ainda anda um pouco até parar, mas o importante é que as pessoas sentirem que tá diminuindo essa velocidade e que vai parar.

Gostaria de saber se vai continuar subindo os alimentos, porque o salário da gente não aumenta. E cada vez que a gente vai no supermercado, tá tudo mais caro. Vai continuar assim?

Poliana: O que essa senhora falou todo mundo sente. A gente vai no supermercado e tá tudo mais caro. O último dado do IPCA foi de 9,38% acumulado nos últimos 12 meses. Como é que fica, ministro, a situação?
Meirelles: Em primeiro lugar, na medida em que o governo gasta menos, exatamente pelo corte de despesas como eu estava explicando, isso injeta menos dinheiro pra alimentar a inflação.

Poliana: Corte aonde ministro?
Meirelles: Por exemplo, o que já foi anunciado agora da diminuição do número de ministérios. Isto já é um corte na própria carne. Na medida em que dez ministérios que existiam deixam de existir. Outra coisa, corte no número de funcionários públicos. Em resumo, uma série de medidas fortes que vão ser tomadas de maneira a que a população possa olhar e dizer: não, tá cortando na carne. Isso vai acontecer mesmo, no momento em que todo mundo começar a acreditar nisso, todo mundo começa a acreditar que a inflação vai cair.