”A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. FHC e Lula são a encarnação da frase de Vinícius de Moraes.

Na maior parte de suas vidas, são, infelizmente, um grande desencontro político. Quando se encontram — nas raras vezes em que se encontram — são, no entanto, a expressão do humano, da arte cortante do encontro da vida com a morte e toda a sua dor.

Nos viscerais abraços que trocaram nos momentos do luto de um e de outro, a dignidade surge acima da divergência. E isso eleva o sentimento e o caráter de uma parte da nação; as pessoas de coração e bom senso se comovem. Como não? Vivem, junto, a dor e a solidariedade de um e outro, nos momentos trocados de cada um.

Foi assim com Dona Ruth, é assim, agora, com Dona Marisa.

Triste história de desencontros do país de desencontros políticos que só consegue se encontrar no dilaceramento e na dor. Quem nos roubou a possibilidade de entendimento, a gratuidade de sermos amigos? Pouco importa.

As fotos que circularam nesta quinta, dos abraços de ambos, são a dor de verdade, da perda e da morte, mas também do afastamento e do desencontro do país. A mais latente dor daquilo que o país poderia ter sido, poderia ter tido se a vida e não a morte tivesse forjado o encontro entre FHC e Lula. Mas, não foi assim. A história passou em outro vagão do tempo.

O resto é silêncio.