Na certidão de nascimento está Adriano de Souza, 30 anos. Para os fãs, ele é o Mineirinho. E para os demais surfistas brasileiros do Circuito Mundial de Surfe, que começa nesta segunda-feira (13) do horário de Brasília, em Gold Coast, na Austrália, ele é o “Capitão Nascimento”.

Campeão mundial em 2015, Mineirinho é o mais experiente dos brasileiros no circuito. Cercado de jovens talentosos de 20 e poucos anos, como Gabriel Medina, 23, e Filipe Toledo, 21, ele ganhou o apelido inspirado no enérgico protagonista do filme “Tropa de Elite”, interpretado pelo ator Wagner Moura, devido à liderança que projeta sobre os demais e a dedicação marcial com que se dedica ao surfe.

“Eles acabaram enxergando em mim um líder. Encaro esse apelido como uma grande virtude, e sou muito feliz e grato por poder fazer parte de uma tropa de elite, com tantos atletas bons”, diz Mineirinho, cujo irmão, militar, é inspiração.

Para ele, no entanto, essa relação harmônica entre os brasileiros acaba no momento em que começa a temporada e se inicia a disputa.

“Hoje em dia não tem mais isso de que eu sou o mais velho ou de que somos todos irmãos. Todo mundo está disputando seu espaço. Os brasileiros são unidos, mas a cadeira de número 1 só é ocupada por uma pessoa. Espero que eu consiga trazer meu melhor e fazer um grande ano”.

Após nove anos na primeira divisão, Mineirinho foi campeão mundial em 2015. No momento em que os olhos começavam a se voltar cada vez mais aos compatriotas que apareciam como novidade com seus aéreos acrobáticos, ele apostou no surfe clássico e conseguiu satisfazer a expectativa que fora depositada nele pelos torcedores desde seus primeiros anos no circuito. Em 2016, teve desempenho irregular e acabou na 11ª colocação.

“Teve ressaca do título. O peso é muito maior, a responsabilidade é grande, e não é algo benéfico de levar para o mar. Você vai surfar buscando algo que você já ganhou. Foi uma experiência diferente. Hoje eu estou em outra situação, quero o título novamente. Quero ser campeão mundial, essa é minha meta”, explica.

Após dois títulos em sequência, com Medina e Mineirinho, a “brazilian storm” passou em branco na última temporada. O mais bem colocado foi Medina, terceiro colocado. Mineirinho gostou.

“2016 foi um ano bom, mais que o regular. Apesar de não termos sido campeões, terminamos em boas colocações: Gabriel em terceiro, Filipe em décimo, eu em 11º. Sempre estivemos nos pódios. Gabriel disputou o título quase até o final, foi a nossa bandeira brasileira. Quando eu não estou na disputa, sempre torço para que outro brasileiro vença”, diz Mineirinho, tecendo elogios aos compatriotas.

“O Medina tem evoluído muito na experiência e na forma física. Ele não chegou ao ápice dele ainda, consigo enxergar que tem muita coisa pela frente. O Filipe também”, analisa, lembrando também de Ian Gouveia, 24, filho de Fábio Gouveia, um dos maiores surfistas da história do país, que estreará em 2017 no Circuito. (Uol)

 

“Ele é uma surpresa, é um garoto super formado para o Circuito, já conhece vários lugares do campeonato, e está muito mais preparado do que outros novatos”.

 

No último ano, os surfistas brasileiros reclamaram algumas vezes da arbitragem, acreditando terem sido prejudicados. O principal deles foi Medina, que em Trestles, nos Estados Unidos, aplaudiu os juízes de maneira irônica e na sequência os criticou em entrevistas. Para Mineirinho, não houve prejuízo e os brasileiros devem encarar a arbitragem de maneira mais profissional.

 

“O julgamento será sempre subjetivo. Os juízes são profissionais e tentam fazer o mais justo. É claro que a gente vai pensar no nosso lado: se o atleta brasileiro perder, vamos criticar, querer saber o porquê. Não podemos só colocar a culpa nos juízes. É uma coisa que vem acontecendo muito, principalmente entre nós, brasileiros: criticar muito algo e não entender o fato de que existe um contexto muito grande, que há outro atleta dando o seu melhor também, e que os juízes estão lá para ver os dois lados. O brasileiro acaba sendo emocional, vê só o lado dele”.