Devido aos acontecimentos ocorridos no final de semana, onde pessoas acabaram atentando contra a própria vida, o JNE resolveu ouvir especialistas no assunto para entender um pouco mais sobre esse “grito silencioso” de ajuda e quais programas que os municípios de Aquidauana e Anastácio oferecem para quem precisa.

Na reportagem de hoje, a entrevistada foi a psicóloga e atual secretária municipal de saúde de Anastácio, Aline Cauneto, que montou uma equipe e desenvolveu o Programa de Saúde Mental no município. Com seis psicólogos na pasta da Saúde e quatro na pasta de Assistência Social, a profissional contou que toda a rede de servidores foram treinados. “Acolhimento. Quem buscar ajuda em qualquer setor de Anastácio será acolhido. Não é só o psicólogo que identifica, todos podem oferecer ajuda”.

A psicóloga explica que, seja nas escolas, nas ESF’s, no CEM, quem sinalizar que precisa e busca por ajuda, terá uma resposta. “Os psicólogos são acionados de imediato e vamos até a pessoa. Não há lista de espera nesses casos, principalmente com pessoas em ideação, que mostram sinais visíveis que querem cometer suicídio”. A ideação suicida é um processo que envolve diversas fases. Desde o pensamento intermitente sobre a vontade de pôr fim na própria vida até o planejamento sobre como isso será feito, as pessoas costumam dar muitos sinais de que as coisas não vão bem.

Aí começa a ajuda com terapias em grupo, encaminhamento para um psiquiatra, caso seja necessário e claro o atendimento individual e as visitas domiciliares. “As pessoas atendidas tem a liberdade de nos acionar a hora que precisar, não importa o dia e a hora, sempre estamos à disposição”, explicou Aline.

Mas a secretária que é psicóloga de formação, pontuou algo de extrema importância e pouco abordado: o apoio familiar. Todo tratamento profissional é em vão se não há comprometimento da família em cuidar da pessoa que está vulnerável. “Não adianta todo esse atendimento, esse acolhimento, se em casa o assunto é tratado superficialmente”.
O que Aline alerta é o descaso dentro de casa. Aquela famosa situação de que “é uma frescura”, “quem fala não faz”, “falta de surra”, “está chamando a atenção”, entre outras. É essencial que a família ou amigos estejam atentos aos comportamentos das pessoas como forma de evitar que o pior aconteça.

Dentro de casa, a união em família é um dos caminhos para vencer esse momento. Nesse sentido, a família tem um papel muito importante e pode contribuir através de diálogo, apoio e esclarecendo dúvidas. Além disso, deve estar atenta à mudança de comportamento, sinais de irritação, desesperança e falas de nulidade, tais como a de que vida não vale a pena ou de que não serve para nada, que seria melhor não existir. Outro detalhe são as publicações em redes sociais, diálogos com sinais de despedida.

“Já tivemos caso dentro do programa que perdemos pacientes mesmo em tratamento. Pais não se atentam ao fim da medicação, veem os sinais como frescura, ou porque acham que a pessoa está em atendimento, o pior não vai acontecer”, contou a secretária.

Conversar a respeito do problema é fundamental, já que ele costuma ser um mal silencioso, pois as pessoas que possuem tendências suicidas não gostam de conversar sobre o assunto por medo ou desconhecimento. Por isso, é importante que familiares saibam identificar os principais sintomas.

É importante manter as linhas de comunicação abertas e manifestar a preocupação, apoio e amor e mostrar que você leva a sério essas preocupações. Não apoiar a pessoa sobre o que se está passando, pode aumentar a sua sensação de desesperança.

A Secretária de Saúde de Anastácio reforça que sua equipe está à disposição para atendimento e palestras, mas alerta as famílias que passam por isso a não colocar nada “debaixo do tapete”.