A BR-262 amanheceu bloqueada por aproximadamente 160 índios da etnia terena nesta sexta-feira (29), à altura do quilômetro 529, trecho próximo ao município de Miranda, no trevo que dá acesso ao Distrito de Taunay. Equipe do JNE acompanhou de perto e conversou com lideranças e representantes das aldeias Bananal, Ipegue, Limão Verde e Cachoeirinha.

A manifestação é em protesto ao projeto de municipalização do serviço de assistência de saúde para atender aldeias indígenas de todo o País, apresentado pelo Ministério da Saúde, que pretendia extinguir a Sesai (Secretaria de Saúde Indígena) e inserir a pasta em uma futura secretaria de Atenção Básica.

O cacique Célio Fialho, da aldeia Bananal considerou o fato como uma ‘falta de respeito do Governo Federal’. “Não queremos o retrocesso para as comunidades indígenas, para nós a Sesai é uma conquista. Tivemos muitas lideranças que participaram de todo o processo para conquistar essa secretaria especial, aí o governo vem e quer implantar outro modelo, sem uma consulta prévia, então esse é o nosso recado”, disse à reportagem.

Célio disse ainda que há previsão de novos manifestos, caso o governo insista no assunto. Ele acrescentou que na pauta também está a questão da demarcação indígena das terras Taunay/Ipegue, Cachoeirinha e Limão Verde, onde segundo ele, houve um retrocesso no processo de homologação dessas terras e também sobre a reforma da Previdência, na questão da aposentadoria rural. O cacique disse que a comunidade indígena não aceita as mudanças.

A Polícia Rodoviária Federal acompanhou a manifestação, onde era liberado apenas passagem para veículos de emergência, como ambulâncias ou que transportam produtos perecíveis. No final da manhã a pista foi liberada.

Mato Grosso do Sul tem população indígena de cerca de 83 mil pessoas e a sede da Sesai no Estado fica em Campo Grande. O Estado conta com 14 DSeis (Distrito Sanitário Especial Indígena), sendo 7 no cone sul, nos municípios de Dourados, Camapuã, Amambai, Tacuru, Iguatemi, Antônio João e Paranhos, e outros 7 ao norte, em Sidrolândia, Aquidauana, Miranda, Bodoquena, Bonito, Corumbá e Brasilândia. Ainda, há 3 Casais (Casas de Apoio à Saúde Indígena), para indígenas que precisam de atendimento de média e alta complexidade, em Campo Grande, Dourados e Amambai.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, recuou no projeto depois de uma reunião com lideranças indígenas nesta quinta-feira (28), mas o protesto anunciado para esta sexta-feira acabou sendo mantido. Mandetta voltou atrás em seu plano de municipalizar a saúde indígena após vários protestos pelo país. Fernando Souza, coordenador da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) em Campo Grande comemorou a decisão, mas concorda que deve haver discussão sobre a estrutura.

Fotos: JNE