por Daniela Lacerda

De acordo com dados do Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho, Mato Grosso do Sul registrou em 2013, 11.402 casos de acidentes de trabalho. O número é praticamente o mesmo em relação ao ano anterior e 6,5% maior em relação a 2011. Dos 11.402 casos registrados, 69% aconteceram com homens e apenas 31% com mulheres.   Ainda segundo os dados do Anuário referente ao mesmo ano, 48 trabalhadores morreram no estado vítimas de acidentes. O número é 23% maior em relação ao ano anterior.

Entre as atividades econômicas responsáveis pelo maior número de mortes e acidentes do trabalho registradas em 2013 estão o abate de animais (Frigorífico), Atividade de atendimento Hospitalar e em terceiro lugar, Fabricação de Açúcar e álcool.  Apesar de ser considerada uma das atividades profissionais que oferecem mais risco à vida do trabalhador, em Mato Grosso do Sul, a construção de edifícios está na sexta posição no ranking com 282 acidentes registrados em 2013. Os números baixos podem ser explicados, pelo investimento contínuo de grandes empresas do setor cada vez maiores na aquisição de equipamentos de segurança, treinamento profissional e no desenvolvimento de inovações.09caminhãorecorte

Exemplo do que estamos falando encontramos na construtora  Plaenge, que está em campo Grande há 27 anos. No quadro funcional e prestadores de serviço, a empresa conta com o trabalho de pedreiros, serventes, armador, carpinteiro, mestre de obras, azulejistas, engenheiros, entre outros. Com 10 obras em andamento na capital, a empresa tem como meta garantir a integridade física dos trabalhadores, para isso investe em segurança do trabalho com treinamentos, compra de equipamentos e desenvolvimento de inovações.  Os reflexos em priorizar a segurança do trabalhador e a prevenção de acidentes têm apontado resultados positivos, nos últimos anos a empresa não registrou a ocorrência de acidentes sérios, fechando o ano de 2014 com 123 ocorrências, a maioria delas sem afastamento. Em 2015, até o momento foram 58 ocorrências, sendo a maior parte também, sem afastamentos.

“A construção civil é um setor conhecido pelos graves acidentes. Nossa empresa tem demonstrado uma sensível redução nos números. Nossa meta é trabalhar com índice de acidentes igual a zero, entretanto como temos um grande número de obras e de operários, além da natureza da atividade, é uma meta muito desafiadora. No mês de setembro conseguimos ter 1250 pessoas trabalhando em nossos canteiros sem um único acidente”, diz Alexandre Lindenberg (Engenheiro Civil e Engenheiro de Segurança do Trabalho Plaenge)

Os cuidados começam pela exigência dos equipamentos obrigatórios de segurança, conhecidos como EPI- Equipamentos de Proteção Individual e os EPC – Equipamentos de Proteção Coletiva. Sendo proibida a entrada na obra de trabalhadores que não foram treinados e aprovados em avaliação médica.  A partir de 2 metros de altura é obrigatório o uso do cinto de segurança, além de outros equipamentos, de acordo com a função. Para segurança na hora de construir edifícios são usados nas obras: bandejas (que impedem que caiam detritos nas pessoas em baixo), elevadores, porta-corpo, proteção de sacada, entre outros. Entre as normas de segurança, um sinal de alerta é emitido toda vez que o guindaste desce ao chão, o que significa que nenhum trabalhador deve estar no raio de ação do equipamento nesse momento. Além disso, todos os anos a empresa realiza assim como as demais a SIPAT – Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho. A ação é obrigatória e tem como objetivo alertar os trabalhadores da importância de se protegerem no trabalho.  Entretanto, o investimento e a preocupação com o tema não parar por aí.

“Entendo que a conscientização faz parte da cultura e essa se consegue com informação, conhecimento e repetição. Isso tudo nós conseguimos com o treinamento, em que o trabalhador passa antes de entrar no canteiro de obras e dependendo da atividade, antes de iniciá-la, além de rotineiramente e semanalmente com os DSS – Diálogos Semanais de Segurança. O tema segurança do trabalho e prevenção de acidentes é muito discutido na Empresa” completou Alexandre.

Outro item em que a Plaenge investe é em seus recursos humanos. Atualmente a empresa possui em seu quadro de funcionários 10 (dez) técnicos de segurança do trabalho, 01 (um) Engenheiro de Segurança e 01 (um) Médico do Trabalho. Para atender a legislação trabalhista bastariam apenas 02 (dois) técnicos de segurança. Isso demonstra a preocupação que o Grupo possui em efetivamente proteger seu trabalhador e não apenas o atendimento a um requisito legal.

Inovações

Outro fator que faz diferença na ocorrência de acidentes graves de trabalho na empresa, o investimento no desenvolvimento de inovações. Como por exemplo, a Serra Conster.  Desenvolvida pela empresa em Cuiabá, o equipamento substitui a Serra de bancada, responsável por muitos acidentes e amputações de trabalhadores. Diferente dela, a Serra Conster que eleva para zero a chance de um carpinteiro perder a mão na máquina.

“A serra conster tem uma coifa protetora que cobre o disco, o dispositivo usado corretamente evita que a mão do trabalhador seja cortada. Além disso, a máquina possui um exaustor de pó, impedindo a ingestão de pó de cerra, que causaria uma doença ocupacional. O equipamento somente é manuseado pelo profissional capacitado e ajudou a acabar com os acidentes que ocorriam no antigo equipamento, ainda usado em outras construtoras. Além disso, o trabalhador utiliza Protetor facial, capacete e protetor auditivo” explicou a Técnica de Segurança do Trabalho ilka Bueno (33).

Outro equipamento desenvolvido foi o Guarda-corpo metálico, que substitui o de madeira. Apesar de ser um custo maior, o equipamento é mais seguro e pode ser reaproveitado em outras obras, diferente do antigo que era de madeira.  Esse equipamento impede que o trabalhador sofra queda.  A empresa possui ainda, o elevador considerado mais seguro na atualidade. O elevador Cremalheira carrega cargas e pessoas e é todo fechado. Acionado por um motofreio de velocidade, ele sobe mais rápido e conta com um sistema de segurança desenvolvido para evitar acidentes.

Outra grande empresa que chegou a Mato Grosso do Sul, em Abril de 2014, com uma experiência centenária no setor elétrico e que se destaca na preocupação em segurança dos seus trabalhadores é a Energisa, concessionária responsável pela distribuição de energia para todo o estado.

Com aproximadamente 1400 funcionários, uma frota de 549 veículos a empresa se orgulha por manter normas rígidas de segurança. Começando pela parte interna da empresa, que possui 19 blocos e tem um sistema de segurança planejado para agir na ocorrência de qualquer acidente, podendo inclusive evacuar o local imediatamente. Só no trabalho da distribuição são mais de 165 procedimentos operacionais visando à prevenção de acidentes.

“Dos seis valores que a empresa tem, o primeiro da lista é a segurança do nosso funcionário! De nada nos vale bons resultados, se você perder uma vida. E o setor elétrico é uma das atividades com maior risco à vida” diz Rodrigo Fraiha, (Gerente da construção e manutenção da Distribuição da Energisa).

Para manter um ambiente seguro de trabalho para os trabalhadores a empresa investe pesado em aquisição de equipamentos, veículos e treinamentos contínuos. Entre os profissionais estão eletricistas, técnicos, engenheiros e administrativo. Todos passam por treinamentos teóricos e práticos.

Para os que estão a campo esse treinamento é mais intenso e rotineiro, afinal de contas são eles que estão diariamente expostos aos riscos da atividade profissional. Os profissionais são assim divididos: eletricistas e técnicos que atuam na rede de distribuição (residências), na transmissão (nas linhas que atendem as cidades) e eletricistas que atuam no combate à perda de energia, (furto).  Ente os diversos itens de segurança os EPI, estão o uniforme anti-chamas, luvas, capacetes, cinto paraquedista, botas isolantes.  Todos são usados na proteção contra possíveis choques elétricos na realização da atividade. “A atividade em sim pode durar 5 minutos, mas todo o protocolo de segurança exigido dura no mínimo 30 minutos”, diz Rodrigo.

Para treinar os funcionários a empresa possui um Centro de Treinamento, com três torres, duas metálicas e uma de concreto.  É nesse local, que os funcionários aprendem na prática como devem desenvolver suas atividades com a maior segurança possível. “O treino começa no solo, ninguém sobe num poste antes de passar por aqui”! Frisa o gerente. Para trabalhar na “linha morta” (padrão desligado) são 420 horas de treinamento, para a “linha viva”, são 660 horas. Os funcionários têm ainda aulas teóricas e virtuais, que simulam situações reais de trabalho.  No total, 36 equipes atendem os domicílios na capital, 24 horas. O primeiro passo ao chegar ao local é analisar quais serão os procedimentos necessários de segurança, podendo inclusive recusar o pedido de serviço, para uma avaliação de especialistas. Os trabalhadores estão sempre em duplas, enquanto o responsável pela operação está embaixo, o outro está em cima seguindo suas orientações.   O centro possui ainda espaço onde realiza treinamento de direção para os trabalhadores que o meio rural, incluindo o pantanal.

O investimento em inovações e tecnologia está também presentes na empresa. Que além de treinamento e atualização profissional procura sempre renovar a frota e adquirir equipamentos modernos. “Você investe em inovação também para garantir segurança, quanto mais fácil de manusear mais atenção e menos acidentes”,  ressalta Rodrigo.   Outra inovação é o caminhão cesta Aérea, que é mais fácil de posicionar. Todo esse esforço em prevenir e priorizar a segurança no trabalho trouxe o resultado mais positivo, nenhum acidente fatal registrado em 2014.

Fotos: Warren Nabuco