A maior cachoeira de Mato Grosso do Sul conhecida como Boca da onça, localizada no município de Bodoquena, está seca há quatro meses. Os registros da situação de um dos maiores pontos turísticos do Estado foram realizadas por proprietários e moradores da região.

Segundo o site de notícias Midiamax, as primeiras fotos que mostravam o pico de 156 metros sem vazão de água foram tiradas em 20 de dezembro. Agora, quase quatro meses depois, a situação é a mesma. “Mesmo as chuvas dos últimos meses não foram suficientes para restabelecer a vazão da água da cachoeira Boca da Onça, a mais alta de MS e a oitava do Brasil. A preocupação continua! Afinal, o que acontece?”, comentou o professor universitário Edson Silva, ao postar as imagens no Facebook.

Ainda de acordo com o Midiamax, a questão chegou ao Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), que irá enviar equipes ao local para investigar o motivo dos meses de seca, já que não era de conhecimento do Instituto. Agora, uma equipe do escritório regional em Bonito, será destacada para averiguar a denúncia e tomar as medidas necessárias.

Estiagem e desmatamento

O Midiamax conversou com o pesquisador da Embrapa (Empresa brasileira de pesquisa agropecuária) Pantanal Ivan Bergier, que explicou sobre uma pesquisa que pode estar relacionada com a questão. Ainda assim, ele afirma que as hipóteses devem ser confirmadas pelas equipes na região.

O local estudado pelo pesquisador é o entorno do rio Paraguai em Ladário. O que Ivan descobriu é a hipótese de que o desmatamento pode estar relacionado com a diminuição das chuvas.

“E por que isso? Provavelmente, a hipótese que eu levantei, que é a seguinte, quando você remove a cobertura vegetal do planalto, você remove o que a gente chama de esponja. Essa esponja faz o que? O que a gente chama de ciclo de água verde. Tem o ciclo da água verde e o ciclo da água azul. A água azul são os rios, a água verde é aquela água que penetra lentamente e abastece os aquíferos. E, ao mesmo tempo, essa água é evapotranspirada pela planta, que formam as nuvens, que faz chover de novo. Então, assim, que tem sofrido mais de seca no pantanal são as áreas menos influenciadas pelos rios e mais influenciadas pelas águas de chuva, dessa chuva de origem vegetal, de entorno”, relatou.

“Agora na Bodoquena, não sei te dizer o que está acontecendo. É menos água chegando no rio, isso com certeza. Agora, essa água em menos quantidade chegando no Rio, se estiver seco, deve ser porque está chovendo menos, abaixo da média histórica”, complementou.

O abastecimento dos aquíferos têm uma relação de interdependência com o bioma do cerrado, presente em Mato Grosso do Sul. É o que mostrou uma reportagem da BBC Brasil. O arqueólogo e antropólogo baiano Altair Sales Barbosa, que há quase 50 anos estuda o papel do Cerrado na regulação de grandes rios da América do Sul.

“Se você arrancar uma dessas plantas, vai contar milhares ou até milhões de raízes, e quando cortar uma raiz e levá-la ao microscópio, verá inúmeras outras minirraízes que se entrelaçam com as de outras plantas, formando uma espécie de esponja.”

Similar à pesquisa de Ivan, o que o arqueólogo explica, é o sistema vegetal retém água e alimenta as plantas na estação seca. Graças a ele, as árvores do Cerrado não perdem as folhas mesmo nem mesmo no auge da estiagem – diferentemente do que ocorre entre as espécies do Semiárido, por exemplo. Barbosa conta que, quando há excesso de água, as raízes agem como esponjas encharcadas, vertendo o líquido não absorvido para lençóis freáticos no fundo. Dos lençóis freáticos a água passa para os aquíferos.

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