Amigos, familiares e colegas de profissão do coletor de lixo Maurício dos Santos Ortega, de 39 anos, afirmaram que vão cobrar que a causa da morte dele seja investigada. Conforme um profissional que teria presenciado o acidente, uma norma da empresa CG Solurb, que presta serviço de coleta em Campo Grande, fez com que a vítima demorasse a receber atendimento médico.

De acordo com um colega, que preferiu não se identificar, uma norma interna determina que sempre que houver um acidente no momento do trabalho, antes de acionar o socorro eles devem chamar a empresa, para que um técnico de segurança do trabalho vá ao local.

“Ele demorou uns 40 minutos para chegar e quando chegou, ao invés de acionar logo o socorro, ficou querendo fazer teste do bafômetro em todo mundo, porque eles acham que a gente bebe durante o trabalho. Um absurdo isso, o rapaz ali sangrando e ele preocupado de tinha alguém bêbado”, afirmou o catador.

A informação foi confirmada por vários outros catadores que estavam no local. Segundo eles, em todos os casos de acidente a empresa deve ser acionada sempre antes do socorro. “Sempre tem acidente com catador e a empresa nunca dá assistência, só quer achar defeito na gente”, contou outro trabalhador, que também não quis ser identificado.

Conforme o funcionário que estava com Maurício no momento do fato, a queda foi acidental. “Ele pegou uma sacola que estava oleosa e como a nossa luva é lisa, não tem antiaderente, ele acabou escorregando quando foi subir e bateu a cabeça no chão”.

O colega garantiu que na hora do acidente, o caminhão não estava em alta velocidade, porque fazia uma curva. “Ele estava a uns 10 km/hora, porque tinha acabado de dar ré para fazer a curva”, contou o rapaz.

Velório

No velório do coletor, a viúva dele, Meiriane dos Santos, de 34 anos, afirmou que quer que o caso seja investigado “até o fim”. “Só me disseram que ele tinha tido um acidente de trabalho, estava consciente e orientado e que seria levado para o hospital, mas quando consegui o ver, ele estava em coma induzido”.

O acidente aconteceu na madrugada entre sábado (6) e domingo (7), em Campo Grande. Maurício foi levado para a Santa Casa, mas morreu na quarta-feira (10). A família afirma que a empresa não deu assistência com os ritos de velório e enterro, “mandar uma coroa de flores e oferecer um ônibus para ir no cemitério não é assistência”, disse um familiar, que preferiu não se identificar.

Para a esposa da vítima, a morte do marido não foi causada por erro dele. “Ele era um ótimo profissional, trabalhava há mais de quatro anos na Solurb já e antes na Financial, então não era nenhum novato, sabia o que fazer. Não quero acusar ninguém, só quero que investiguem o que aconteceu”.

Meiriane afirma que tem recebido muito apoio dos outros coletores de lixo. “Eles falaram que o que precisar posso contar com eles. Formamos uma família agora”, afirmou a dona de casa.

Maurício deixa a mulher e uma filha de seis anos. Trabalhador, era ele quem sustentava a família, a esposa se dedicada a casa e à filha. “Ele sempre quis que eu ficasse em casa. Agora não sei o que vou fazer”, contou.

O enterro do coletor está programado para ocorrer no Cemitério Jardim da Paz, às 15h30 desta quinta-feira (11).

A reportagem do Jornal Midiamax encontrou em contato com a CG Solurb, pedindo explicações sobre a norma, mas até o fechamento desta matéria não recebeu resposta.

Fonte: Midiamax