por Ligia Baraldi

Mais de mil cidades brasileiras comemoram, em 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra. A data, incluída em 2003 no calendário nacional, refere-se à morte de Zumbi dos Palmares, o último líder do maior dos quilombos do período colonial, o Quilombo dos Palmares. Ele foi construído para abrigar escravos fugitivos. O local abrigou uma população de mais de 20 mil habitantes.

Comemorada há mais de 30 anos por ativistas do movimento negro, a data foi oficializada pela Lei 12.519 de 2011. A data é dedicada tanto à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira quanto para a memória do racismo sofrido pelos negros ao longo dos séculos.

Segundo o presidente da Federação dos Cultos Afro-brasileiros e Ameríndios do MS (Fecams), Irbs Santos, todas as políticas e conselhos, associações que tratam de consciência negra, não existe religião sendo representada lá dentro. “Consciência das pessoas está escura mesmo, porque o povo descendente de escravos, não é lembrado. Nós ainda sofremos uma intolerância religiosa”.

Irbs comemora alguns avanços, como o reconhecimento, como um dia destinados a eles, mas afirma que ainda existe muita conscientização a ser feita. “Esse ano fizemos dois eventos e é uma maneira que achei de por o povo na rua para quebrar esse dogma de que nós temos que ficar presos dentro de um barracão”.

Ele cobra maiores ações por parte das autoridades políticas. “Hoje a consciência que nós temos que ter é que nós continuamos escravos. A consciência tem que partir das autoridades, para olhar com outros olhos para nós. A sensação é que tudo de mal que acontece no mundo nós somos culpados”.

Para Irbs, o resgate histórico e o conhecimento da história dos negros é a chave para diminuir o preconceito existente. Foi isso que a jornalista Priscila de Oliveira Ribeiro buscou fazer ao lançar o livro “Retratos da Comunidade Tia Eva”.

A publicação narra através de fotos e textos um pouco da história da Comunidade Remanescente de Quilombo Eva Maria de Jesus, ou Tia Eva, como é tradicionalmente conhecida. Atualmente, cerca de 600 moradores compõem a comunidade negra na região da Igrejinha de São Benedito, localizada em Campo Grande. Definida como comunidade remanescente de quilombo desde 1905 foi reconhecida pela Fundação Cultural Palmares apenas em 2008.

O trabalho apresenta vida, costumes, heranças culturais e das perspectivas de futuro dos moradores desta centenária comunidade. A publicação busca fazer uma homenagem a ex-escrava Tia Eva e a comunidade que leva seu nome.

A comunidade mais tradicional da cidade resgata a cultura dos antepassados e até o próximo dia 22 oferece uma programação diferenciada para o Dia da Consciência Negra. Com atrações musicais, religiosas, esportivas e de saúde, os eventos pretendem exaltar os dotes da comunidade e também celebrar os 89 anos da morte da escrava Eva Maria de Jesus, a Tia Eva.

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