O surgimento de bactérias multirresistentes em todos os países gerou entre os cientistas previsões catastróficas para a humanidade: um mundo sem antibióticos em um futuro não distante. O caminho para resolver a situação é a investigação de novas possibilidades para o tratamento de infecções bacterianas.

Em fevereiro de 2017, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou a primeira lista de “agentes patogênicos prioritários” resistentes aos antibióticos. O catálogo contém 12 famílias de bactérias que representam a maior ameaça para a saúde humana. A iniciativa da OMS irá orientar as pesquisas de novos antibióticos.

Em Mato Grosso do Sul, um dos estudos nessa área é coordenado por Osmar Nascimento Silva, bolsista de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional (DCR/Fundect). O projeto “Desenvolvimento de peptídeos terapeuticamente eficazes para o tratamento de infecções bacterianas sistêmicas” tem como objetivo principal o desenvolvimento de peptídeos antibacterianos com atividade melhorada a partir de peptídeos moldes do APD 2 e AMPer por meio do desenho racional de peptídeos.

“A pesquisa em desenvolvimento busca soluções para o combate a cepas bacterianas resistentes aos antibióticos. Para tanto, utilizamos duas estratégias. Na primeira, trabalhamos com o desenho racional de Peptídeos Antimicrobianos (PAMs) curtos como no máximo dez resíduos de aminoácidos. Já a segunda estratégia é baseada na modificação incremental de PAMs já descritos na literatura, a fim de torná-los mais potentes e menos tóxicos”, explica Osmar.

Com o aumento na incidência de infecções resistentes a múltiplos antibióticos, existe hoje um grande interesse pelos PAMs como modelos para a produção de novos antibióticos, pois são mediadores multifuncionais da resposta imune inata, com atividade antibacteriana direta.

“Vale lembrar que as bases teóricas e a hipótese para desenvolvimento do projeto, hoje financiado pela Fundect/CNPq, teve início há oito anos, quando iniciei meu mestrado sob a supervisão do professor Octávio Franco que é meu mentor e conseguiu reunir essa equipe formada por pesquisadores do MIT, University of British Columbia, UCB e UCDB”, ressalta Osmar.

De acordo com o professor da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e adjunto da Universidade Católica de Brasília e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Octávio Franco, o projeto está inserido em um projeto maior no qual são desenvolvidos inúmeros antibióticos com potencial para controle de bactérias resistentes. “Estas bactérias têm afetado dia a dia com maior intensidade pacientes em UTIs do nosso país e do mundo. Dessa forma este projeto visa a busca de novos antibióticos de origem proteica que possam ser usados para controlar tais infecções que no momento são incontroláveis”, ressalta Octávio.

Resultados

Entre os resultados estão a produção de uma biblioteca de peptídeos com a capacidade de erradicar seletivamente bactérias patogênicas que crescem em biofilmes, assim como a determinação da concentração inibitória mínima (CIM) e Concentração Mínima Bactericida (CMB) das sequências geradas, determinação da atividade citotóxica, e avaliação da atividade antibacteriana sistêmica e monitoramento por bioluminescência.

Para Osmar, é fundamental que a equipe sinta o reconhecimento do trabalho dedicado às pesquisas. “Estamos muito esperançosos com os resultados obtidos nesse primeiro ano de projeto. A repercussão internacional de um dos trabalhos publicados, no final do ano passado ‘An anti-infective synthetic peptide with dual antimicrobial and immunomodulatory activities’, nos encoraja a seguir adiante”.

Legislação e controle

No Brasil, a primeira legislação restringindo o uso foi publicada em 28 de outubro de 2010 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Posteriormente, em 9 de maio de 2011, foi publicado em Diário Oficial da União uma nova norma para regulamentar a venda de antibióticos, a RDC nº 20 / 2011, e em dezembro de 2014, a Agência atualizou o documento com a RDC 68/2014.

Hoje, legalmente, não é possível comprar antibióticos sem uma receita médica específica. O Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) administra as receitas retidas e as arquiva por um período de dois anos.

Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional (DCR)

O CNPq é o financiador do programa de bolsas DCR, que contribui para diminuição das desigualdades priorizando as instituições situadas nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste que tradicionalmente têm pouco desenvolvimento científico e tecnológico.

A presença temporária do pesquisador estimula a fixação de recursos humanos com experiência em ciência, tecnologia e inovação com reconhecida competência profissional em instituições de ensino superior e pesquisa, institutos de pesquisa, empresas públicas de pesquisa e desenvolvimento, empresas privadas e microempresas.

Uma das condições para o bolsista é selecionar uma instituição em unidade da Federação distinta daquela onde é domiciliado, onde obteve o título de doutor, onde já exerce a profissão ou onde se aposentou.

Sobre

Edital: Chamada FUNDECT/CNPq/SECTEI N° 19/2015 DCR

Título do projeto: Desenvolvimento de peptídeos terapeuticamente eficazes para o tratamento de infecções bacterianas sistêmicas

Coordenadora: Osmar Nascimento Silva

Instituição: Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)

 

 

JNE com Portal MS