Os problemas emocionais não são uma escolha, e ninguém deseja atravessar uma depressão nem passar por momentos de ansiedade. Eles simplesmente podem surgir, após um período de acúmulo de situações e circunstâncias complicadas em nossas vidas.

Existe uma falsa crença de que ansiedade e depressão são sinais de fraqueza e da incapacidade diante da vida. Mas não, uma pessoa com ansiedade, depressão ou sintomas mistos NÃO está louca e nem tem uma personalidade fraca ou inferior aos outros. Tampouco são consequências de escolhas pessoais. Não podemos decidir se queremos ou não que essas condições nos acompanhem.

É triste e esgotador lutar contra isso, mas é uma realidade social que não podemos ignorar. Assim, apesar dos avanços da ciência, o inconsciente moderno que envolve nossa sociedade ainda pensa que os problemas emocionais e psicológicos são sinônimos de fragilidade e vulnerabilidade.

Por isso dado que a depressão e ansiedade não são contempladas como feridas que precisam de atenção, é comum ouvir discursos circulares com argumentos do tipo “relaxe”, “não é para tanto”, “comece a se mexer, a vida não é isso”, “você não tem razão para chorar”, “comece a amadurecer”, “é vida que segue”, “levanta a cabeça”, etc.

São comuns, não é verdade? De fato, é provável que em algum momento tenhamos sido vítimas ou até proferido este tipo de discurso. Por isso é fundamental realizar um exercício de conscientização e dar à dor emocional a importância que ela tem e merece. Assim, da mesma forma que não iríamos ignorar a dor causada por fortes pontadas no estômago ou por uma enxaqueca terrível, não deveríamos ignorar a dor emocional.

Não podemos esperar que estas feridas emocionais se curem sozinhas, devemos trabalhar para extrair delas o significado presente em seus sintomas. Ou seja, devemos consultar um psicólogo que nos ajude e nos proporcione estratégias para fazer frente a esta grande dor emocional causada pela ansiedade e pela depressão.

O JNE conversou com a psicóloga Rosangela Garcia, especialista em Terapia Cognitiva, para que pudéssemos entender um pouco sobre a depressão, muitas vezes desencadeada pela ansiedade. A especialista classifica a ansiedade como o mal do século, e é o que leva a depressão. Segundo Rosângela, existem dois tipos de depressão: A endógena – quando falta uma substância chamada ‘Serotonina’ no organismo, sendo preciso ingerir medicamento que vai fazer a produção dessa substância. Não precisa ter acontecido nada exteriormente pra que a pessoa fique deprimida. E a depressão exógena – que desencadeia quando acontece alguma coisa ruim, e as pessoas vão selecionando esses acontecimentos ruins que acontecem com elas, e as coisas neutras, as coisas boas, elas acabam não prestando atenção.

“O indivíduo vai formando crenças negativas em relação a vida dele, o que vai fazendo com que cada vez mais ele fique com a autoestima baixa, cada vez mais inseguro, cada vez mais improdutivo, e algumas coisas negativas que acontece no cotidiano dessa pessoa, se confirma por conta do comportamento, o que chamamos de profecia auto-realizante”.

Outra pontuação feita pela psicóloga é que, a pessoa precisa ‘se conhecer’, entender como ela pensa, como ela interpreta, não é o que acontece com a gente que nos faz ficar triste, é como a gente entende isso. E quando falta a serotonina no organismo, a pessoa fica muito mais vulnerável.

Sobre o que leva ao suicídio

Rosangela Garcia explica que o que mais leva a pessoa a atentar contra sua vida, não é a doença depressão, é o problema, o sintoma de um transtorno. Nesse caso o médico psiquiatra é indispensável, nenhum outro médico o substitui. É esse especialista que tem todo o conhecimento sobre tipo de transtorno de personalidade, quais comportamentos que a pessoa tem, que se enquadra em qual tipo de transtorno. Porque a depressão passa a ser um sintoma e não uma doença.

“Existe a depressão doença, a depressão que vem da ansiedade. Nós estamos em um mundo, onde tudo acontece muito rápido, a globalização, a internet, tudo acontece ao mesmo tempo, onde nós temos a obrigação de sermos vencedores, e muitas vezes acabamos passando isso para nossos filhos, de sermos destaque e a concorrência é muito grande. Então a ansiedade em cima disso, da sobrevivência, do destaque, do sucesso, e a expectativa que se cria sobre si mesmo, ela é tão real, que a pessoa começa a ser mais do que ela pode, mais do que você tem pra dar. Aí vem as comparações com pessoas que estão mais preparadas, e a pessoa não percebe que está fazendo uma comparação injusta. Aí vem uma série de erros, de pensamentos cognitivos, que vão comprovando que você é um fracasso, que você não consegue. Ela não enxerga que ela tem o limite dela, que teve a cultura dela, que a educação que ela teve foi diferente, mas ela quer concorrer, ela quer se destacar, aí se frustra, criando expectativas de si e muitas vezes expectativa dos outros”.

A ansiedade é quando você quer prever o futuro, e aquilo que a pessoa espera, não acontece. Aí vem uma frustração, outra frustração, que vai levando ela acreditar que é incapaz, ou inadequada, “não são tão bom quanto”, “não pertenço a esse meio”, ou que ela não seja amada, acha que não consegue ter um relacionamento porque não merece o amor de ninguém e assim vai. A pessoa começa a se martirizar sobre esses problemas, achando que a vida dela não tem solução… E o motivo que leva ao suicídio é a falta de esperança…

“Se eu não vejo uma luz no fim do túnel, como é que eu vou resolver. Mas a pessoa que atenta ou quer atentar contra a vida, ela não quer morrer, ela quer acabar com o problema, aí na cabeça dela, a saída é a morte”.

Quem comete suicídio dá sinais o tempo todo

A especialista explica que os principais sinais estão no comportamento, como por exemplo, sair com os amigos, fazer um simples programa familiar, coisas que dão prazer, a pessoa começa a deixar de fazer isso. Outros sinais que temos que nos atentar são para os verbais.

“Nós que estamos de fora, vemos os sinais como desabafos: ‘eu não aguento mais’, ‘estou de saco cheio’, ‘eu vou sumir’, ‘quero desaparecer’, ‘a vida não tem mais sentido pra mim’, ‘quero dormir e não acordar nunca mais’, ‘quero tomar um remédio e ficar meses dormindo e quando eu acordar, tudo ter passado’. Temos que estar atentos e não levar como um simples desabafo”.

A pessoa antes de cometer suicídio ela deprime, porque nada dá certo, e isso toma conta dela, que ela nem percebe o que deu certo, e o que acaba dando errado ‘ela confirma’. E isso vai deixando a pessoa cada vez mais frustrada, se sentindo incapaz e acaba cometendo o suicídio, para dar uma ‘solução’ para o problema.

É uma situação de desespero, muitas vezes relacionadas a um transtorno mental…

“Precisamos entender que o transtorno mental não é frescura, não é bobagem e que o suicídio realmente pode ser evitado, que existem medicações que podem ajudar na depressão e outros fatores que aumentam a chance de uma pessoa se suicidar”.

A importância da ajuda profissional

Rosangela reforça que casos de pessoas que passam pelo problema e procuram ajuda profissional, tem índice relativamente baixo de suicídio, apesar de todo o sofrimento que envolve os pacientes.

“Entender que a vontade de se matar é uma questão de saúde, é importante para que a pessoas busquem ajuda. Se elas estão bem informadas em relação ao que é o suicídio, elas conseguem entender e aí se informar sobre como buscar ajuda”.

Diante disso, a psicóloga menciona que os profissionais de saúde conseguem fazer uso de diversos dispositivos que praticamente impedem a pessoa de cometer o suicídio. Outra ajuda importante é a espiritual. Não importa sua religião, mas as igrejas de Aquidauana e Anastácio oferecem ajuda para quem está disposto a vencer a depressão. Em Aquidauana, a Igreja Avivamento de Deus tem grupos de ajuda e cultos motivadores, é só chegar, participar e não ter vergonha de procurar a Pastora Márcia e relatar seu problema, ela e os fiéis da Avivamento estão pronto a dar uma palavra de fé, uma palavra amiga e junto com você, vencer essa depressão. A Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição, conhecida como Igreja Matriz também tem uma equipe jovem, liderada pelo Padre Sérgio, cheios de boa vontade e com muitas atividades e encontros de encher os olhos de esperança.

 

Não perca a fé, peça ajuda, seja ela profissional ou espiritual. Onde procurar ajuda em Anastácio e Aquidauana

Esta temática tem forte relação com Aquidauana e Anastácio, uma vez que os municípios tem apresentado altos índices, devido aos elevados números de casos. Estatísticas do 1º Subgrupamento do Corpo de Bombeiros mostram que em 2016 foram 26 casos, sendo três consumados e vinte na forma tentada. Já em 2017, de janeiro até abril foram 11 casos, dois consumados e nove tentativas.

Órgãos de saúde pública locais desconhecem a posição atual de Aquidauana e Anastácio no ranking dos municípios de MS com o maior número de casos, mas sabe-se que os índices estão elevados e são motivos de preocupação.

De acordo com a psicóloga Rosangela Garcia, a falta de informação é sim a real causa para índices tão assustadores para duas cidades que dá pouco mais de 70 mil habitantes.

Em Anastácio, a Secretaria Municipal de Saúde está desenvolvendo o Projeto de Saúde Mental, capacitando as equipes nas Unidades de Saúde do município. Quem precisar pode procurar orientação no Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF e nos postos de Estratégia de Saúde da Família – ESF. A Igreja Universal do Reino de Deus tem grupos de evangelização que oferecem ajuda para quem se encontra em estado de vulnerabilidade psicológica. A Igreja Católica Matriz do município, Paróquia Nossa Senhora de Lourdes também está de portas abertas para os que precisam de um consolo e aliviar essa dor tão angustiante, caso necessário, integrantes da igreja acompanham em domicílio e também encaminham para atendimento psicológico.

 

Caps de Aquidauana, atendimento gratuito

Já em Aquidauana, além do Centro de Especialidades Médicas – CEM que conta com psicólogos, o ideal é procurar o Centro de Atenção Psicossocial – CAPS, que é um serviço de saúde aberto e comunitário do SUS, local de referência e tratamento para pessoas que sofrem de transtornos mentais e passam por situações de vulnerabilidade psicológica.

CEM de Aquidauana, atendimento gratuito

Outro local onde pode encontrar atendimento psicológico é a Clínica Médica da Pax Universal, com a psicóloga Cláudia Terezinha Rossi Torres, onde o paciente pode encontrar um valor mais acessível.

Clínica da Pax Universal, onde se encontra um valor mais acessível

A psicóloga Rosangela Garcia, entrevistada nesta edição, é formada pela Universidade Católica Dom Bosco, com especialização em Terapia Cognitiva para adolescentes e adultos, pelo ITC de São Paulo e atende às segundas e sextas-feiras em Aquidauana. Para maiores informações, pode entrar em contato com a profissional pelo telefone (67) 9983-3779.

Rosângela Garcia, especialista em Terapia Cognitiva