Leandro após cirurgia de retirada do globo ocular - Arquivo pessoal

O tatuador Leandro Coelho, de 30 anos, perdeu o globo ocular direito após rejeição de um segundo transplante de córnea. Ao todo foram três procedimentos deste lado e dois no olho esquerdo, que incluem a implantação de membranas especiais. Ele se preparava para a terceira tentativa de transplante no olho direito quando o médico decretou que o quadro era irreversível e que, além dele não recuperar a visão, também precisaria retirar o olho.

Em fevereiro, a ex-companheira, Sônia Obelar Gregório, de 41 anos, jogou soda cáustica no rosto de Leandro. O motivo foi o fim do relacionamento. Ela foi indiciada pela polícia pelos crimes de lesão corporal gravíssima e perseguição. A mulher continua foragida.

A cirurgia de remoção do olho direito de Leandro foi feita há um mês e ele segue tentando se adaptar, agora, de uma vez por todas, com o fato de não enxergar mais. À reportagem, ele comenta que perder um dos sentidos de uma hora para outra é impactante demais para alguém que não nasceu cego ou com baixa visão.

“Quando o olho vazou aí complicou tudo. Meu olho não estava respondendo. Estou tentando pedir a Deus uma direção, uma habilidade para lidar. É muito difícil para alguém que teve a visão toda a vida perder de uma hora para outra, é como estar vendado e tentar adivinhar as coisas. A gente fica totalmente dependente das pessoas”.

O assunto ainda é delicado, mas ele tem conseguido falar melhor sobre o que aconteceu. “Tenho lembranças e fico meio sentimental. As coisas são difíceis, eu tive a oportunidade de ver tudo. Tenho família, eu posso ouvir mas não posso mais ver o rosto, isso machuca um pouco a gente”, disse.

Para lidar com a situação, o tatuador se apoia na fé e revela que encontrou um novo amor. Há quase quatro meses, Leandro se casou. Para ele a esposa veio como uma mensagem divina.

“Está sendo uma benção, ela veio pra me ajudar enviada por Deus para essa causa. Em um momento como esse é importante alguém pra dividir. Hoje consigo ver coisas que antes não conseguia. Sempre fui um cara de fé, mas quando aconteceu isso comigo estava um pouco mais frio, hoje estou mais próximo, mais fortalecido. Isso significa muito, a fé sempre foi meu chamado. Consigo lidar com a situação justamente por causa disso”.

Financeiro

Em março, Leandro criou uma vaquinha virtual para custear alguns procedimentos e ajudar a manter os gastos de rotina, já que não estava mais trabalhando. Ele explica que os R$ 35 mil arrecadados duraram quase seis meses e foram usados na compra das membranas oculares, compra de alimento, transporte e aluguel.

Após primeiras cirurgias, Leandro gostava de ouvir música nas horas vagas – Juliano Almeida/Campo Grande News

Perdão a ex

Questionado se conseguiu perdoar a ex-companheira, Leandro responde que hoje não sente mais raiva de Sônia pelo que ela fez. Tampouco tem mágoa ou rancor. Além disso, revela que já não pede mais a Deus pela prisão da acusada.

“Eu sempre libero perdão, eu pedi pra Deus tirar toda revolta mágoa e lembrança de tudo o que ela fez. Hoje não lembro, não tenho mágoa quando toco no assunto, quero que ele faça uma obra na vida dela, é deus que vai cobrar isso. Não sei como é a mentalidade dela hoje em relação a tudo o que aconteceu. Sigo um Deus de perdão. Não faço nem questão que ela vá presa”, finaliza.

Crime

No dia 22 de fevereiro, o tatuador voltava da academia e estava chegando em casa, no Bairro Aero Rancho, quando viu a ex-namorada, que sinalizou para que ele parasse no intuito de conversarem. Ao parar a moto, a mulher jogou o líquido de uma jarra no rosto da vítima. Dois dias depois, médico oftalmologista confirmou cegueira no tatuador.

Leandro disse que ficou “atordoado”, sentindo o rosto e olhos queimando. Ele, então, andou com a moto por alguns metros, mas não aguentou a dor e perdeu a visão. Foi o momento em que parou e pediu socorro na casa de um morador. Em seguida, a vítima lavou o rosto com água da mangueira, mas sua visão escureceu e não voltou mais.

Ele foi socorrido pelos bombeiros e levado para a Santa Casa. A família do rapaz disse que a mulher não aceitava o término e era “doente de ciúmes” pelo fato de ele ser tatuador. Ela “rezava” para que ele ficasse cego. Áudios enviados pelo WhatsApp também mostram a insistência de Sônia para reatar, enquanto Leandro pedia que ela se afastasse, pois não queria mais continuar com o relacionamento.

*Com informações do Campo Grande News