Do dia 4 a 8 de novembro, um grupo de organizadores de eventos e articuladores da observação de aves no Brasil se reuniu em uma viagem ao longo do Rio Paraguai para observar aves e discutir o momento atual dessa atividade no estado e no país, levando em consideração a sua importância para a conservação socioambiental e para o turismo.

“Estou aqui na WTM, em Londres, enquanto o evento acontece em Corumbá e vejo como é impressionante o potencial da observação de aves para o turismo. Aqui na Europa, onde a prática já é mais difundida, a gente vê o valor que isso tem dentro do turismo de natureza”, conta Bruno Wendling, presidente da Fundação de Turismo de Mato Groso do Sul.

A FundturMS, junto com a Joicetur, Avistar Brasil, Instituto Homem Pantaneiro e da Icterus Ecoturismo, deu apoio ao encontro idealizado e coordenado pelo Instituto Mamede de Pesquisa Ambiental e Ecoturismo.

Simone Mamede, diretora do Instituto e coordenadora do Avistar MS (Encontro de Observadores de Aves do MS), aborda que o evento permitiu aos participantes “uma experiência imersiva no Pantanal com sua abundância de aves e outros animais, plantas e pessoas, além de proporcionar um amplo planejamento de prospecção de futuro para o Aviturismo no Brasil. E isso é observado no resultado do evento, como a previsão de articulação política efetiva com o Ministério do Turismo, a realização de um evento trinacional que reúne o Brasil com países irmãos como Paraguai e Bolívia, além do fortalecimento de uma rede de atores que atuam na promoção de eventos em observação de aves no território brasileiro. A ação se reverberará, ainda mais, por todo o país e América do Sul”, exalta Mamede.

“Aviturismo: um horizonte de eventos” é o primeiro Evento Fluvial de Observação de Aves no Brasil e aconteceu a convite do Instituto Mamede de Pesquisa Ambiental e Ecoturismo. O grupo de 20 pessoas embarcou no porto de Corumbá (MS) e navegou até a Serra do Amolar, ao longo do rio Paraguai, principal responsável pela dinâmica de secas e cheias da planície pantaneira.

Piracema: estação perfeita para o Turismo de Observação de Aves no Pantanal

O Pantanal sul-mato-grossense está entre os principais destinos de turismo de pesca do país. No entanto, esta atividade é interrompida na piracema, período importante para a reprodução dos peixes e que garante a sustentabilidade do segmento. E é neste momento que a observação de aves se coloca como alternativa para manter o turismo ativo na região.

“Ao longo do percurso do rio, pudemos observar cerca de 200 espécies de aves, além de mamíferos e répteis. A rota está mais do que validada como ótima opção para a observação de aves”, afirma Geancarlo Merighi, diretor de Desenvolvimento do Turismo da Fundtur MS, que participou do evento.

Ao longo da expedição, cada percurso, entre o rio Paraguai, corixos e baías, incluindo caminhada por trilha na RPPN Eliezer Batista, gerou listas de espécies com aves muito singulares como o rapazinho-do-chaco, o cara-suja-do-pantanal, a papa-taoca-do-pantanal e a choca-da-bolívia.

Essas espécies têm ocorrência bastante restrita no Brasil e se o turista quiser encontrá-las com mais facilidade, certamente terá como destino o Mato Grosso do Sul e a região pantaneira. Sem contar as centenas de cabeças-secas, tuiuiús, garças, marrecas e biguás que, justo nessa época, pincelam intensamente a paisagem com cores e vida.

É o ritmo das águas dando passagem aos seus protagonistas. Se é hora de darmos um descanso aos peixes, a fim de assegurar sua reprodução e permanência futura, pode ser o momento ideal para se deslumbrar com as belezas cênicas preenchidas com milhares de aves que aproveitam o momento das águas rasas para garantir seu alimento.

Perceber e utilizar com sabedoria cada um desses ciclos pode assegurar a sobrevivência do turismo sustentável no Pantanal ao longo do ano, sem interrupção sazonal.

Observo, logo, conservo

A região da Serra do Amolar, local escolhido como o destino final do percurso do “1º Aviturismo: um horizonte de eventos” ganhou notoriedade nacional em função dos incêndios devastadores ocorridos em 2020.

“Essa região tem uma riqueza ambiental ímpar, que não apenas promove encantamento. Não é só observar passarinhos, mas, principalmente, vivenciar a metáfora da integração e do ConViver. É o encostar do planalto da borda oeste com a planície, o encontro entre paisagens paradisíacas com pessoas que mantêm vivas suas práticas culturais em correspondência com aquele ambiente, é saber que a Bolívia está logo ali e juntos ocupamos o mesmo espaço, o qual é importante para ambos os povos e reforça nossa responsabilidade e unidade sociobiodiversa”.

Maristela complementa que “é justamente esse encantamento que as aves e a natureza, de modo geral, provocam nas pessoas e que o grupo percebe como oportunidade de engajamento social em favor da conservação socioambiental em caráter sistêmico. A partir do momento que se conhece o lugar, com todos os seus elementos componentes, você quer que tudo aquilo continue existindo”.

Promover a observação de aves é uma forma de impulsionar a conservação socioambiental, além de alavancar o turismo e a economia local sustentável, em equilíbrio com a manutenção dos serviços ecossistêmicos que tanto beneficiam a todos.

O futuro da observação de aves no Brasil

Durante a viagem, além das atividades de campo, o grupo realizou reuniões para discutir e trocar experiências. “A observação de aves no Brasil está agora em um outro estágio de amadurecimento, muito diferente do que se via há 30 anos”, conta Guto Carvalho, idealizador do Avistar Brasil.

Em função desta análise, foram mapeadas necessidades no âmbito dos eventos, do turismo, da formação de condutores/guias e continuidade de atividades gratuitas e acessíveis que promovam a construção de público, como as diversas iniciativas de “Vem Passarinhar” ao redor do país. Para seguir com o desenvolvimento sólido da atividade nesse momento de amadurecimento, concluiu-se ser necessário maior articulação com o governo, tanto nas agências de turismo quanto de meio ambiente.

Pensando em uma mobilização com Governo Federal e, de modo estratégico para que mais organizadores de eventos de observação de aves possam participar, ficou definido que a edição do próximo encontro de “Aviturismo: um horizonte de eventos” acontecerá em 2024, em Brasília-DF.

Fonte: Portal MS