Foram usados oito comprimidos de Cytotec para tirar a vida do feto da adolescente de 17 anos, coagida a fazer aborto pela mãe em março deste ano no Bairro Guanandi, em Campo Grande. Por meio de um amigo, a corretora de imóveis conseguiu comprar o medicamento de uma enfermeira da Santa Casa e obrigar a filha a ingerir os remédios. Pelo menos outros dois envolvidos no procedimento foram identificados pela polícia.

A mãe da adolescente, o amigo que participou do crime e a enfermeira que forneceu o medicamento foram presos na manhã desta terça-feira (16) durante a Operação Herodes. Em coletiva de imprensa, a delegada responsável pelo caso, Aline Sinotti, da Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude), explicou que assim que soube da gravidez da filha, a corretora ‘optou’ pelo aborto do neto.

Ela descobriu que menina estava grávida no dia 8 de março e pediu ajuda do amigo, que é pedreiro, para conseguir o remédio. A mulher e a enfermeira já se conheciam, mas por conta de desentendimentos antigos, a mãe da jovem usou o amigo como intermediário. Falando que precisava dos medicamentos para a irmã, ele comprou 4 comprimidos, cada um por R$ 200.

Uma primeira tentativa de aborto foi feita. A adolescente foi induzida a tomar dois comprimidos por via oral e teve outros dois introduzidos na vagina. “A mãe falou que os remédios não fizeram ‘nem cócegas’”, explicou a delegada. Mais 8 comprimidos foram comprados e desta vez a jovem sofreu o aborto.

No dia 14 de março o feto foi retirado e enterrado no quintal da família. A menina acabou contado para o namorado, que imediatamente chamou a polícia. Quando as equipes chegaram ao local, encontraram uma jovem debilitada, que a todo momento assumia a culpa pelo crime e afirmava ter tomado o ‘chá de buchinha’ para perder o bebê e em seguida o enterrado.

A família do pai da criança colocava a responsabilidade da mãe da menina os primeiros indícios de que algo estava errado foram encontrados ainda na casa. Segundo o médico legista Eduardo Trindade, o primeiro a atender a jovem, o estado de saúde da vítima impossibilitava que ela saísse na cama e sozinha enterrasse o feto.

Além disso, a versão apresentada por ela, que estava há dois dias sem alimentação para poder tomar o chá, e a hemorragia causada pelo aborto tornaria a iniciativa de cavar o buraco no quintal impossível. “Com médico, afirmo que o uso do chá é inerte”, acrescentou o médico.

Foi também a presença do amigo da família durante a chegada da equipe, coordenada pelo delegado Bruno Urban, o que chamou atenção dos policiais. Testemunhas relataram que o pedreiro estava no local desde o meio-dia, horas antes do namorado da menina avisar sobre o crime. Ele passou então a ser investigado.

A polícia constatou que o homem foi o responsável não só por comprar o medicamento, como também por enterrar o feto. Preso temporariamente, ele será indiciado por tráfico de drogas, ocultação de cadáver.

Outros dois suspeitos, uma testemunha que teria mentido para a polícia sobre a presença da mãe na casa no dia do crime e o responsável por fornecer a droga para a enfermeira, já foram identificados e serão indiciados por participação no aborto.

A enfermeira, funcionária da Santa Casa, será indiciada por tráfico de drogas e associação para o tráfico, enquanto a mãe da menina deve responder por praticar aborto sem o consentimento da vítima, associação para o tráfico, tráfico de drogas e ocultação de cadáver e corrupção de menores. A mulher ainda perdeu a guarda da filha, que a partir de agora vai morar com o pai.

 

JNE com Midiamax

Fotos: Midiamax