Familiares e amigos dos policiais militares Valdeci Alexandre da Silva Ricardo e Bruno Cesar Malheiros dos Santos -acusados pelo homicídio do ex-vereador Wander Alves Meleiro, conhecido como Dinho Vital -, farão manifesto na tarde desta terça-feira (30) em frente ao Fórum de Anastácio. Eles estão presos desde o dia 17 de maio, mesmo a Corregedoria da Polícia Militar, após produzir minucioso relatório sobre o crime, absolver os militares, já que agiram com “o estrito cumprimento de um dever legal”.
Nesta terça serão ouvidas testemunhas na Comarca de Anastácio e no Fórum de Campo Grande os policiais militares, já que se encontram presos na Capital.
Familiares que organizam o manifesto afirmam que os policiais agiram em legítima defesa, já que no dia do ocorrido, 08 de maio, Dinho estava alterado em um evento em uma chácara na BR-262, onde era comemorado o aniversário da cidade, discutiu com o ex-prefeito Douglas Figueiredo e o atual, Nildo Alves, já que naquele momento, Nildo estaria apoiando Douglas como pré-candidato à prefeitura de Anastácio, o que Dinho não aceitava. Após calorosa discussão entre Dinho e outros presentes no almoço, ele teria ido com um amigo até sua chácara e buscado uma pistola .9mm, dizendo que iria resolver a situação.
Dinho deixou o amigo na propriedade e saiu sozinho. Este amigo então ligou para a esposa do ex-vereador e avisou que ele voltaria para festa armado. A mulher então avisou os presentes e pediu para que os “supostos alvos” do marido fossem embora. Informações estas que constam nos depoimentos anexados ao processo sobre o caso, no qual o JNE teve acesso. Sargento Valdeci e Cabo Bruno César, que estavam presentes, porém à paisana, resolveram interceptar Dinho na rodovia, para que ele não entrasse na chácara armado e fizesse alguma besteira.
Quando foram para a BR-262, próximo a ponte do rio Taquarussu, Dinho estava parado com seu carro e com a arma em punho. Os militares então pararam e verbalizaram para que ele colocasse a arma no chão. O ex-vereador não obedeceu e apontou a arma para os policiais, momento em que estes revidaram e atiraram.
Familiares de Dinho então começaram uma “campanha” em redes sociais alegando que ele teria sido executado, já que afirmaram que Bruno e Valdeci seriam supostos seguranças do ex-prefeito Douglas Figueiredo, informação esta derrubada no decorrer das investigações, já que Bruno estava auxiliando o grupo que estava tocando e Valdeci teria sido convidado por uma outra pessoa, tudo comprovado nos autos do processo.
Perito e testemunha ‘derrubam’ tese de execução em morte de ex-vereador
A tese de execução do ex-vereador de Anastácio, também perdeu força com o avanço das investigações. Inicialmente, o laudo do exame necroscópico indicava que o tiro fatal o havia atingido pelas costas, mas uma perícia complementar solicitada pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) revelou que os projéteis que feriram Dinho Vital entraram pelas laterais e pela frente do corpo.
Segundo o mesmo perito médico legista, Ivan de Oliveira Chaves, responsável pelo primeiro laudo, também elaborou o novo documento a pedido do MP, descreve que um dos tiros atingiu Dinho Vital “na região posterolateral direita (de trás para frente, parcialmente lateralizado), saindo pela região anterolateral esquerda”.
O outro disparo entrou pela “região anterolateral esquerda (de frente para trás, parcialmente lateralizado), transfixando a região abdominal, o perito criminal constatou que não houve tiro à queima-roupa.
Outro ponto crucial adicionado ao inquérito foi o depoimento de uma testemunha, um ciclista que passava pela BR-262 próximo ao local onde Dinho Vital foi abordado por policiais militares à paisana. Segundo a apuração, esse homem procurou a Corregedoria da Polícia Militar para relatar o que viu e ouviu. Ele disse que havia parado na rodovia para consertar a corrente da bicicleta quando ouviu gritos: “Polícia, abaixa a arma! Larga a arma! Aqui é a polícia!”. Em seguida, ouviu tiros e viu um homem cambaleando e apertando o abdômen. Acrescentou que não houve mais disparos após este momento.
O ciclista narrou que tudo aconteceu em frente a um veículo preto parado às margens da rodovia – o Fiat Toro de Dinho – e um carro branco logo atrás. A presença da testemunha no local e horário dos fatos foi confirmada por um vídeo de câmera de segurança do posto Taquarussu.
Corregedoria inocenta Policiais Militares
Durante as investigações, foram ouvidas 35 pessoas e analisadas imagens de câmeras de segurança, imagens gravadas na festa e conversas de WhatsApp. Com base nisso, a corregedoria definiu que os dois policiais atiraram em Dinho Vital durante “o estrito cumprimento de um dever legal – o de defender os convidados de uma festa em Anastácio de um homem armado – e por isso, decidiram pela excludentes de ilicitudes na ação deles”.
Segundo o relatório, a morte de Dinho foi consequência das ações dos policiais, mas estas foram justificadas pelo comportamento ameaçador do ex-vereador, que empunhava uma pistola calibre 9 mm. O documento afirma que, durante a abordagem, foi feita a devida verbalização para que Dinho abaixasse a arma, conforme relatos de testemunhas. “Portanto, diante do apurado cotejo das peças que compõem o presente inquérito policial militar, concluímos que a conduta investigada, embora típica, se coaduna com as excludentes de ilicitudes previstas no ordenamento jurídico vigente”, consta no texto.
O relatório, aprovado pelo corregedor-geral da PM, coronel Edson Furtado de Oliveira, foi encaminhado ao Ministério Público.