Um vídeo recebido de moradores em Aquidauana (MS) nesta quarta-feira, dia 7, voltou a expor uma cena revoltante: uma mancha de óleo diesel se espalhando pelo leito do Rio Aquidauana, um dos principais cursos d’água da região. A gravação foi feita por um pescador nas primeiras horas da manhã, na altura da Colônia de Férias, e já na hora do almoço a mancha havia avançado até a região do Pesqueiro São Francisco, evidenciando a gravidade e a rapidez com que a contaminação se espalhou.
A denúncia se soma a uma série de relatos que indicam descaso e negligência ambiental, com episódios recorrentes de contaminação, lixo, assoreamento e degradação das margens do rio.
Indignados, moradores cobram providências urgentes dos órgãos competentes, como o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), Ibama, Secretarias Municipais e Estaduais de Meio Ambiente, além do Ministério Público, que tem o dever legal de fiscalizar e responsabilizar os autores por crimes ambientais.
Segundo relatos, essa não é a primeira vez que óleo ou resíduos poluentes são despejados no rio. “É um crime que se repete e ninguém faz nada. O rio está morrendo diante dos nossos olhos, e o silêncio das autoridades é cúmplice”, desabafa um morador.
De rio piscoso a manancial ameaçado
Conhecido no passado como um dos rios mais piscosos de Mato Grosso do Sul, o Rio Aquidauana já foi sinônimo de fartura, turismo e beleza natural. Era comum ver pescadores voltando com redes cheias e famílias aproveitando as margens para lazer.
Hoje, essa realidade ficou no passado. Segundo relatos de pescadores, encontrar um único exemplar de peixe se tornou raro. O que se vê são trechos assoreados, margens cobertas de lixo e entulho, vegetação nativa devastada e mata ciliar praticamente inexistente. A largura do rio, em alguns pontos, diminuiu drasticamente com o acúmulo de sedimentos.
“A cada cheia, mais terra desce. A mata ciliar praticamente desapareceu, e não há nenhuma política de reflorestamento. Pescador que antes pegava o sustento aqui hoje volta pra casa com as mãos vazias”, relata um ribeirinho que há décadas vive da pesca.
Crime ambiental recorrente e impune
A presença de óleo diesel no leito do rio configura crime ambiental grave, previsto na legislação brasileira, com potencial para causar danos irreversíveis à fauna aquática, além de comprometer a qualidade da água e o equilíbrio do ecossistema.
Mesmo assim, moradores denunciam que nada tem sido feito. Segundo ambientalistas, falta fiscalização, ação efetiva e transparência das autoridades ambientais. “Já notificamos o Imasul e o Ibama, e a resposta é sempre a mesma: vão averiguar. Mas o problema persiste”, lamenta um dos denunciantes.
E agora, quem responde pelo rio?
Diante da gravidade da situação, a pergunta que ecoa entre os moradores é: até quando as autoridades continuarão inertes diante desse crime ambiental recorrente?
A população exige:
Investigação imediata da origem do óleo;
Identificação e penalização dos responsáveis;
Ações emergenciais de limpeza e contenção da contaminação;
Planos de recuperação da mata ciliar e controle do assoreamento;
Monitoramento constante da qualidade da água.
O que está em risco não é apenas um curso d’água, mas um patrimônio natural, histórico e cultural, que há décadas integra a identidade de Aquidauana e da região pantaneira.
Incidente anterior reacende o alerta
Este não é um caso isolado. Em maio deste ano, uma extensa mancha de óleo já havia causado preocupação entre os moradores, também no Rio Aquidauana. Na ocasião, vídeos mostravam a superfície do rio coberta por um líquido espesso e multicolorido, típico de vazamentos de óleo.
Segundo apuração, o vazamento foi causado por um acidente em uma draga pertencente ao areeiro Recanto da Barra. O rompimento de uma mangueira, após o travamento do filtro hidráulico da máquina, lançou óleo diretamente no leito do rio. Técnicos da empresa atuaram para conter o derramamento, mas, mesmo assim, o caso resultou em contaminação de recurso hídrico, e a empresa deverá ser autuada pelos órgãos ambientais competentes.
O episódio reacendeu o debate sobre os riscos da extração mineral em áreas próximas a cursos d’água, e reforçou o apelo da população por maior fiscalização, especialmente quanto ao uso de máquinas pesadas às margens do rio.
Enquanto episódios como esses se repetem, o Rio Aquidauana agoniza, e a população se pergunta: quem vai responder por esse abandono?