Nos oito primeiros meses de 2015, o total de falências requeridas no Brasil subiu 14,2% ante igual período de 2014; o número de estabelecimentos comerciais caiu 5,6% em 12 meses até julho; e o setor caminha para primeira redução no total de empresas desde 2005.
O fim precoce tem sido o destino de um número cada vez maior de estabelecimentos no país, encurralados pela elevação nos custos e pela desaceleração na economia. Desemprego em alta e renda em retração fizeram os clientes desaparecerem das lojas. No comércio, as vendas devem fechar no vermelho pela primeira vez em 12 anos.
No Brasil, o total de estabelecimentos comerciais caiu 5,6% em 12 meses até julho, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) a partir de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Nesse ritmo, o setor caminha para a primeira redução no número de empresas desde o início da série, em 2005.
O número de pedidos de falência deve ter a maior alta também desde 2005, estima a Boa Vista SCPC, considerando todos os setores. O processo é puxado pelo comércio, cujos pedidos sobem em ritmo mais intenso. Nos oito primeiros meses de 2015, o total de falências requeridas no Brasil subiu 14,2% ante igual período de 2014. No comércio, o salto foi de 20,9%.
Os pedidos de recuperação judicial, medida para tentar evitar a falência da empresa, também caminham para um recorde em 2015. Até agosto foram 800 no país, alta de quase 40%. A adesão recente de grandes grupos – caso das empresas de Eike Batista e das empreiteiras OAS e Galvão Engenharia, na esteira da Operação Lava-Jato – tende a impulsionar o recurso.
Custos
Em Ipanema, um dos metros quadrados mais caros do país, o preço salgado dos aluguéis já vinha pressionando os lojistas. A queda no movimento em 2015 foi a gota d’água para muitos deles. Vítima de um aluguel de R$ 23 mil mensais, o arquiteto Chicô Gouvêa fechou a loja de decoração Olhar o Brasil, inaugurada em 2011.
“As coisas pioraram muito desde o fim do ano. Optamos por manter a loja de Itaipava (região serrana do Rio), mais rentável. É triste. Ipanema era uma vitrine”, conta Gouvêa.
Mesmo no centro do Rio, a especulação dos imóveis já sufocava os lojistas, que agora agonizam diante da queda nas vendas. José Freitas, há 22 anos dono da livraria Solário, fechou a unidade da Rua da Carioca após o aluguel ter triplicado de um ano para o outro. Ele até negociou um aumento gradual e foi levando como pôde, achando que a crise iria passar.
“Mas não passou. Fechei a loja em julho, demiti balconistas e atendentes, mas estamos em dificuldades. Não sei até quando vou conseguir manter a loja da Sete de Setembro”, lamenta.
Segundo o Sindilojas Rio, 1.290 lojas fecharam na cidade de janeiro a maio, último dado disponível. O volume quadruplicou ante 2014. Para o presidente da entidade, Aldo Gonçalves, o empresário só fecha um estabelecimento quando não tem saída, já que isso envolve despesas. “O consumidor tem receio de comprar e o empresário, de investir. É o pior dos mundos”, diz.
“O que o ano de 2015 mostra é uma combinação de custos elevados e queda nas vendas, que estrangula o empresário e impõe um processo de seleção natural”, analisa Fabio Bentes, economista sênior da CNC. “A crise vai se prolongar mais do que a gente esperava. Para o comércio reagir via liquidações vai ficar mais difícil, já que o custo aumentou muito.”
Pelos dados do Caged, as microempresas, com até nove funcionários, representam um terço do setor e são as mais frágeis diante da conjuntura econômica desafiadora.
No caso delas, a queda já chega a 6,7%. Já entre as empresas com até 99 funcionários, todos os 22 segmentos investigados apresentam redução no número de companhias ativas.