Passados sete dias da apreensão de 700 máquinas destinadas à coleta de apostas do jogo do bicho, em Campo Grande, a Polícia Civil faz mistério sobre os rumos da investigação. O flagrante, quase de por acaso, foi feito pelo Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros), mas o inquérito, quando aberto, deve ser tocado por outra especializada, talvez o Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado).
A decisão sobre qual delegado ficará responsável por descobrir a quem pertencem as maquininhas está nas mãos do chefe da Polícia Civil, Roberto Gurgel, que, na semana passada, estava em viagem oficial, nos Estados Unidos. Na quarta-feira passada, dia 18, o delegado-geral havia dito que daria encaminhamento assim que voltasse. “Estou fora do país com a Secretaria Nacional de Segurança Pública, mas acompanhando a situação. Assim que chegar, vamos analisar de maneira técnica e jurídica, como sempre fizemos, qual a unidade com atribuição para a investigação”, explicou à reportagem.
Mas, nesta segunda-feira (23), ele não atendeu às ligações e nem respondeu a reportagem pelo WhatsApp. A Polícia Civil também não deu retorno via assessoria de imprensa e o secretário de Justiça e Segurança Pública, Antonio Carlos Videira, mandou avisar que estava em reunião quando a reportagem ligou.
Fato é que a investigação já não está nas mãos do Garras, segundo o delegado, Fábio Peró. “O gabinete vai deliberar para onde vai o procedimento”, explicou.
O flagra
Na tarde do último dia 16, segunda-feira, policiais do Garras investigavam detalhes de outro crime quando a especializada recebeu denúncia de roubo cuja placa do carro usado pelos supostos criminosos foi anotada. Ao receber o alerta, a equipe que estava no Monte Castelo visualizou o veículo do assalto em frente a uma casa na Rua Gramado e passou a monitorar o local.
Foi quando um motociclista deixou a residência e os investigadores em viatura descaracterizada decidiram segui-lo. Sem conseguir abordar o homem de moto, a equipe voltou para o endereço onde o carro de assaltantes havia sido deixado.
O veículo já não estava mais no local, mas com a chegada de reforços, os policiais tocaram a campainha do imóvel. Um homem atendeu, disse que estava ali para “jogar baralho” e, quando os investigadores entraram, havia outras pessoas no local, além das máquinas utilizadas para a coleta de apostas da loteria ilegal.
Na “turma do baralho”, estavam dois policiais militares aposentados, o major Gilberto Luiz dos Santos, que também é funcionário da Assembleia Legislativa, e o sargento Manoel José Ribeiro. “Major G. Santos”, como é conhecido o oficial da PM, está lotado no gabinete do deputado estadual Roberto Razuk Filho, mais conhecido como Neno Razuk, desde 2019.
Além dos PMs, outras sete pessoas foram conduzidas para a sede do Garras, onde deram depoimento e foram liberadas. Todos negam ligação com esquema de exploração do jogo de azar.
A casa é de empresário sul-mato-grossense que aluga o imóvel desde janeiro e diz ter sido pego de surpresa com ação do Garras, pois não fazia ideia que o inquilino fazer parte de grupo que lucra com a loteria ilegal.
*Com informações do Campo Grande News