Pouco mais de três anos após matar a tiros o marido Valdeni Lopes Nogueira, major da Polícia Militar, Itamara Romeiro Nogueira falou pela primeira vez à imprensa sobre o caso. Na manhã desta quarta-feira (6), a tenente-coronel foi julgada administrativamente pela Corregedoria da Polícia Militar e condenada à aposentadoria compulsória.
Ao deixar o prédio da Corregedoria, Itamara deu o primeiro depoimento desde o crime. Com a voz calma e se dizendo tranquila, desabafou sobre os anos que sofreu agressões físicas e psicológicas em silêncio.
“Queria deixar uma mensagem para as mulheres que tiverem me ouvindo, independente do cargo que exerçam, independente de onde estão, sejam donas de casa ou não, se libertem dessas prisões que encarceram psicologicamente e que podem, muitas vezes, levar a uma tragédia como foi a minha. Porque se eu tivesse me libertado há muito tempo atrás talvez eu não estivesse aqui hoje”.
A tenente-coronel relatou ainda do peso de não denunciar os crimes que sofre pelo cargo que ocupa. “A farda pesa”, desabafou. “As mulheres tem que falar mais. Tem que ir para rua e bater panela, tem que dizer eu não vou apanhar, independente de ser autoridade ou não, tem que ter essa coragem”.
Segundo o advogado José Roberto Rodrigues da Rosa, foi justamente o silêncio de Itamara que influenciou na decisão da bancada que analisou o processo administrativo nesta quarta-feira. Sem qualquer registro na polícia sobre as agressões e ameaças relatadas pela tenente-coronel, os três oficiais decidiram pela aposentadoria compulsória.
Para a reportagem, o advogado explicou que o processo julgava se Itamara seria expulsa ou não da corporação, e que a decisão foi parcialmente acatada. “Ela vai sofrer uma reforma administrativa, ou seja, vai se aposentar. Essa aposentadoria é diferente de ir para a reserva. Quando o militar está na reserva pode voltar ao trabalho, no caso dela isso não pode acontecer”. Atualmente ela está lotada no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).
Para Rosa, os anos de dedicação a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul foram determinantes para garantirem a permanência da cliente na corporação. Agora o processo será encaminhado ao Governo do Estado e depois ao Tribunal de Justiça. Se não houver oposição à aposentadoria de Itamara, em dois meses todo o procedimento deve ser formalizado.
O caso foi julgado por três coronéis nomeados. Alexandre Rose Ferreira, foi o relator do processo, Airton Leonel Praeiro, o escrivão, e Edson Betolozo, presidente da sessão.
O crime – Na tarde de 12 de julho de 2016, o casal estava discutindo em casa, no bairro Santo Antônio, e por volta das 16h30 a mulher efetuou disparos contra o marido. Com a chegada da PM, Itamara se trancou na residência e se negou a entregar a arma, mas confessou o crime.
Itamara afirmou a Justiça que foi vítima de violência doméstica, que já ocorria há tempos, e, desta vez, havia sido agredida com socos e tapas e teria sido ameaçada de morte pelo marido e agiu em legítima defesa.
Segundo o depoimento da oficial, após as agressões o marido foi em direção ao carro para pegar a arma e ela correu até o quarto, alcançou sua pistola e disparou em direção à vítima. O caso foi investigado pela 7ª Delegacia de Polícia Civil, que ao fim do inquérito afirmou que a PM agiu em legítima defesa.
Até hoje o assassinato não foi julgado. Isso porque a defesa de Itamara tenta que ela seja absolvida sem ir a júri popular. Ao Campo Grande News, Rosa detalhou que aguarda a analise do último recurso, feito no STF (Supremo Tribunal Federal). Se for negado, a tenente-coronel deve ir a júri em fevereiro do próximo ano.
“Essa angustia vai caminhar comigo até o momento em que eu possa me libertar de toda essa questão, tanto na esfera criminal, quanto na esfera administrativa, mas aos poucos eu vou me libertando”, afirmou a militar.