Usuários de drogas, que fazem uso diário de maconha, cocaína e, principalmente, crack estão espalhados pelas ruas da Capital e consomem drogas em praças públicas, embaixo de pontes, pelas calçadas e imóveis abandonados. Em plena luz do dia, quem caminha pelas ruas centrais de Campo Grande constata a gravidade do problema e se depara com “nichos de consumo”, principalmente no quadrilátero que engloba as ruas 15 de Novembro, Afonso Pena, Barão do Rio Branco, Rui Barbosa e Ernesto Geisel.
Na periferia, esse consumo é mais acentuado, transformando regiões, como da Vila Nha Nhá em verdadeiras “Cracolândia”. O Cead (Conselho Estadual Antidrogas), estima que 8 mil pessoas recorrem a tratamento em Caps (Centro de Atenção Psicossocial) e comunidades terapêuticas, sem ter atendimento adequado pelo SUS (Sistema Único de Saúde) para atender a demanda crescente.
O flagelo das drogas, um mal que destrói vidas e famílias em todo País, cresce em Campo Grande, nas cidades do interior do Estado e chega a até a zona rural e aldeias indígenas. Na Capital, é comum ver pessoas deitadas nas calçadas, dormindo de dia, porque passam a noite fumando crack. Perto da antiga rodoviária e do Mercadão Municipal são pontos de encontros de usuários de drogas e traficantes que comercialização maconha, cocaína e principalmente a “pedra” do crack, droga fulminante que castiga e debilita a mente e o corpo do usuário, instantaneamente, passa a ser escravo do vício.
Cenas como essa, presenciada pela reportagem, faz parte da rotina na Capital. Uma garota menor de idade chega e senta encostada em uma parede. Calmamente prepara o cachimbo e acende a pedra. Ao lado dela, outra pessoa também usa a droga e forma um grupo que pratica o consumo coletivo de entorpecente. O efeito da droga é visível no semblante e no corpo do usuário que apresenta sinais de debilitação, inquietação, demência e até mesmo no jeito esquizofrênico de caminhar pelas ruas da Capital.
FACILIDADES PARA O CONSUMO
A facilidade em adquirir a droga passa por uma série de fatores que implicam até mesmo peculiaridades geográficas, quando Mato Grosso do Sul faz fronteira com países produtores de drogas como Bolívia (cocaína e crack) e maconha (Paraguai). Nessa esteira maléfica, Campo Grande se torna “rota do tráfico” para consumo interno e grandes centros do país, como Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Além disso, diariamente, apreensões de drogas são comuns nas estradas federais e estaduais do Estado.
Independente de faixa etária, nível de escolaridade e classe social, pessoas fazem uso de drogas e o vício passa a fazer parte do dia-a-dia. A rotina dos usuários é arriscada e perigosa, à medida que muitos praticam crimes para sustentar o vício. A ideia difundida de que o crack custa barato é subjetiva porque na realidade custa tudo o que o viciado tiver ou conseguir angariar de forma lícita ou ilícita, inclusive a dignidade e o convívio familiar, quando comete furtos até mesmo na própria residência para adquirir a droga.
POTENCIALIZA O CRIME
A droga potencializa o crime. Notícias sobre crimes envolvendo usuários de drogas acontecem todos os dias, praticamente. Em Campo Grande, um menino de 5 anos levou maconha de presente para professora em uma Escola Municipal na Vila Alves Pereira porque via a tia usar e achou que a educadora também iria gostar. O Conselho Tutular e a Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca) investigaram e constaram que a crianças vivia em situação vulnerável porque os pais estavam presos por tráfico.
Estatísticas da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública) revelam que assassinatos, assaltos, roubos e até latrocínio, geralmente, tem envolvimento com a droga. Os crimes de roubos aumentaram 48% no primeiro semestre de 2015, em relação ao mesmo período do ano passado em Campo Grande. O número de “bocas de fumo” se multiplicam cada vez mais e a polícia encontra dificuldades para combater o tráfico e reprimir o consumo por conta da legislação que privilegia o viciado que não pode ser preso e necessita de tratamento para se recuperar e ser reinserido no convívio social, educacional e profissional.
AUTORIDADES APONTAM DIFICULDADES
O promotor de Justiça, presidente do Conselho Estadual Antidrogas, Sérgio Fernando R. Harfouche, destaca a importância de criar conselhos em todos os 79 municípios do Estado, sendo que existem apenas 27. “Mato Grosso do Sul era apenas um corredor de drogas, hoje já temos cracolândia instaladas. Todos os municípios do Estado têm nichos de consumo de drogas”, denuncia Harfouche.
Para o promotor, Mato Grosso do Sul sofre com um problema a mais por ser fragilizado pela exposição das fronteiras, especialmente com dois dos maiores produtores de drogas do mundo, Bolívia e Paraguai. “O que impressiona é que nem o Estado ainda não tem políticas públicas para combate as drogas, apesar do conselho já ter formulado e apresentado ao governador”, ressalta o promotor.