Acadêmicos desenvolvem projeto para mudar realidade do abandono de animais em Aquidauana

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Não é novidade que as ruas de Aquidauana estão infestadas por animais abandonados, jogados a própria sorte, reflexo da irresponsabilidade daqueles que ‘adotam’ um bichinho, depois o descarta como lixo. Só no local conhecido como Pirizal, o abandono é gritante, pois serve como depósito de descarte de filhotes de cães e gatos.

Protetoras denunciam que camionetes de luxo param no local e jogam sacos com os filhotes e até animais adultos. Acredita-se tratar de produtores rurais do município, já que são sacos de produtos utilizados em plantações e alimentos para gado, o que gera mais revolta por parte de quem faz um trabalho de “enxuga gelo” para minimizar o sofrimento desses animais. Mas isso não exime a irresponsabilidade de moradores da área urbana que também não se intimidam em “se livrar” de um animal. Há relatos que comprovam que a prática de abandono também se estende para a zona rural, onde os bichinhos são jogados às margens das estradas e próximos a chácaras e fazendas.

Vendo essa problemática do grande número de animais abandonados nas ruas da cidade, alunos do curso de Zootecnia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, do campus de Aquidauana, estão desenvolvendo um projeto que trata de “ações sociais para a conscientização da população aquidauanense para o não abandono de animais”.

Segundo o professor do curso e orientador do projeto, Tiago Pasquetti, a ideia iniciou ainda em 2015, resultando da observação de um grande número de cães, gatos e equinos nas ruas da cidade, os quais muitas vezes transitam em meio aos veículos, podendo causar acidentes de trânsito, agredir as pessoas, além de serem vetores de algumas doenças que podem ser transmitidas aos seres humanos.

O projeto aponta registros do Laboratório de Entomologia, onde desde o mês de fevereiro até agosto de 2017, foram sacrificados 430 cães positivos para Leishmaniose, em Aquidauana. A Leishmaniose é transmitida por insetos vetores (chamado popularmente de “mosquito palha”), que se contaminam ao picar pessoas e animais infectados e transmitem, posteriormente, às pessoas e animais sadios. Devido à forma de transmissão, animais soltos nas ruas estão mais susceptíveis à contaminação, proliferando de forma mais rápida a doença, o que justifica as ações de conscientização da população ao não abandono dos animais.

Mas o zootecnista alerta que a saúde pública, riscos de acidentes e agressões não são as únicas preocupações. “Os animais, assim como os seres humanos, sentem fome, frio e medo. Portanto, na condição de indivíduos com capacidade de raciocínio, digamos que, superior aos animais, nós seres humanos, devemos ser um pouco mais humanos. A solução para a grande maioria dos problemas que enfrentamos hoje em nosso país, se chama educação. E é neste contexto que pretendemos conduzir este projeto, educando a população para que não abandonem os animais e conscientizando-os quanto à ‘Guarda Responsável’”.

Quando o professor se refere à ‘Guarda Responsável’, está reforçando sobre os valores que seres humanos devem assumir com relação aos animais, o que implica em um indivíduo tomar para si o cuidado ou a responsabilidade dos animais que optou por levar para sua residência. E a posse irresponsável de um bichinho de estimação é crime. De acordo com o artigo 32, da lei Nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, “quem praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”.

E quem violar a Lei, tem a pena de detenção, de três meses a um ano, e multa. A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. Atualmente, a multa por maus tratos ou abandono de animais pode variar de R$ 100 reais até R$ 15 mil reais.

“Nós professores do ensino superior, além de passarmos aos acadêmicos o conhecimento técnico de nossas determinadas áreas de conhecimento, neste caso a Zootecnia (produção animal), nos sentimos também na obrigação de contribuirmos de outra forma para com a comunidade, conduzindo projetos que visem melhor qualidade de vida aos cidadãos de uma forma geral. Não podemos nos permitir viver em uma sociedade onde animais são abandonados nas ruas, alimentando-se de lixo sobre as calçadas, defecando em locais onde as crianças, e até mesmo adultos têm acesso, e nada fazermos por isso. Temos que começar a mudar nosso pensamento e o das pessoas que nos cercam”, pontuou professor Tiago.

O professor e seus alunos tem ciência que é um trabalho em longo prazo, mas optaram em dar o primeiro passo e pretendem mudar a realidade hoje encontrada em Aquidauana. O projeto conta com a Prefeitura Municipal de Aquidauana, Secretaria Municipal de Obras e Serviços Urbanos, Vigilância Sanitária, e com o Laboratório Regional de Entomologia e Controle de Vetores.

Fotos: Arquivo Pessoal/Professor Tiago Pasquetti