Mato Grosso do Sul ocupa a primeira colocação nacional em notificações de violência interpessoal contra idosos, segundo dados do Atlas da Violência 2025, divulgado nesta segunda-feira (13) pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria com o FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública). O estudo aponta um alarmante crescimento de casos envolvendo agressões praticadas por familiares, amigos ou pessoas próximas às vítimas.
A violência interpessoal, conforme definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), consiste em “um ato único ou repetido, ou a falta de uma ação apropriada, que ocorre no âmbito de qualquer relacionamento onde haja uma expectativa de confiança, que cause mal ou aflição a uma pessoa mais velha”. Essa definição inclui agressões físicas e psicológicas, violência sexual, tortura, negligência e outras formas de abuso.
Em 2023, o Brasil registrou 28.704 notificações desse tipo de violência. A análise histórica de 2013 a 2023 mostra um aumento de 142,2% nas notificações em todo o país. Contudo, o cenário mais crítico está em Mato Grosso do Sul, que registrou a maior taxa entre as 27 unidades da federação: 312,9 casos por 100 mil habitantes — contra 260,7 em 2013. Apenas entre 2022 e 2023, a variação foi de impressionantes 60,5%.
Além disso, o Estado aparece entre os líderes em notificações de lesões autoprovocadas entre idosos. Em 2023, foram 25,9 casos por 100 mil habitantes, ocupando a sétima posição nacional, atrás de estados como Ceará, Roraima, Goiás e Santa Catarina.
Outro destaque do estudo é a desigualdade racial na vulnerabilidade da população idosa. Em âmbito nacional, a taxa de internações por violência entre homens negros com mais de 60 anos (19,3) é praticamente o dobro da registrada entre homens não negros (9,1). Em Mato Grosso do Sul, a disparidade é ainda mais gritante: 34,1 para homens negros, contra 15,5 para não negros. Entre as mulheres, a diferença também preocupa — 4,1 para negras e 2,1 para não negras.
O levantamento alerta para possíveis limitações nos dados, que se baseiam em registros do Sistema de Informação Hospitalar da rede SUS. “A prevalência das violências pode estar subnotificada ou distorcida devido à oferta de serviços hospitalares e ao comportamento da população em buscar (ou não) atendimento pelo SUS”, aponta o estudo.
O Atlas da Violência 2025 conclui que, embora o Estatuto da Pessoa Idosa trate a população idosa como um grupo homogêneo, é fundamental considerar as desigualdades por raça e gênero para compreender plenamente as múltiplas formas de violação de direitos que atingem essa faixa etária.