Ainda vivendo a dor da perda recente, a avó do bebê Théo Lopes Coronel, de apenas 1 ano e 2 meses, morto por pneumonia nesta terça-feira (29), fez um alerta por mais atenção aos casos de gripe, em especial às crianças. Crislaine presenciou o agravamento rápido do quadro de saúde do neto, que evoluiu de uma gripe para pneumonia.
“Meu conselho é: corre atrás, vai procurar atendimento, vai atrás. Evite sair com seus filhos na rua, aglomeração, principalmente os pequenininhos, porque não é brincadeira. Só quem viveu, quem passa, sabe que não é brincadeira, que é muito sério”, alertou.
A avó conta que o caso de Théo começou com sintomas aparentemente leves, após ter se recuperado de uma gripe. No entanto, em menos de uma semana, o quadro se agravou a ponto de precisar de intubação e, mesmo com a transferência para o CTI do Hospital Regional, o bebê não resistiu.
Segundo Crislaine, outras sete crianças estavam internadas com diagnósticos semelhantes, como bronquiolite, H1N1 e pneumonia. “Tinha até um bebezinho de um mês entubado. É muito sério. O que para uns é só uma gripe, para os pequenos pode ser mortal”, reforçou novamente.
O alerta da avó é reforçado por dados oficiais da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), que demonstram um cenário crítico em Campo Grande. O último boletim da Sala de Situação de Vírus Respiratórios, divulgado nesta terça-feira (29), confirma 1.101 notificações de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) na capital.
Desses casos, 586 casos foram confirmados, 197 seguem em investigação e 318 não tiveram a causa especificada. Entre os vírus identificados nos casos graves estão 196 de Influenza, 196 de VSR (Vírus Sincicial Respiratório), 107 de Rinovírus, 44 de Covid-19, 13 de Metapneumovírus, 30 de outros vírus respiratórios.
Até o momento, 79 pessoas morreram por SRAG em Campo Grande em 2024. Desses, 22 óbitos foram causados por Influenza, 10 por Covid-19, cinco por VSR, três por Rinovírus e quatro por outros vírus. Outros dois seguem em investigação e 33 não foram especificados.
Projeção é que aumento de casos continue
A secretária municipal de Saúde, Rosana Leite, destacou que o cenário já é tratado como situação de emergência desde o início de abril. “Nas últimas três semanas houve aumento crescente de casos, e a projeção é que isso continue por pelo menos seis semanas”, explicou. Segundo ela, o aumento da circulação de vírus respiratórios agrava ainda mais o histórico problema de falta de leitos em Campo Grande.
Nos últimos sete dias, 2.210 atendimentos por doenças respiratórias foram registrados nas USFs (Unidades de Saúde da Família), além de 8.979 em unidades de urgência e emergência (UPAs e CRSs). A Sesau pede que casos leves sejam direcionados às USFs para evitar sobrecarga dos prontos-socorros e que pais redobrem os cuidados com crianças pequenas, especialmente menores de 1 ano.
A vacinação contra a Influenza segue como a principal forma de evitar quadros graves. A orientação é procurar a unidade de saúde mais próxima, além de manter medidas de prevenção como uso de máscaras em caso de sintomas e higienização das mãos.
No último sábado (26), a Prefeitura de Campo Grande decretou situação de emergência na saúde pública do município por 90 dias. A medida busca dar agilidade às ações de combate aos vírus. Entre as medidas já tomadas, está a liberação da vacina para toda a população.
O surto de casos provocou uma superlotação das unidades de urgência e emergência, além da lotação máxima das UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) neonatal e pediátrica. “Com hospitais lotados e ausência de vagas, o município precisou agir para ampliar a capacidade de atendimento”, explicou Rosana.
Com o decreto em vigor, a Prefeitura também poderá flexibilizar normas sanitárias em unidades de saúde, como a distância mínima entre leitos e a quantidade de médicos por paciente em UTIs, medidas semelhantes às adotadas durante a pandemia da Covid-19. A medida também permite a contratação emergencial de profissionais de saúde.