Cintia  Barbosa, professora da E.E. Thomázia Montoro

Cintia Barbosa, professora da E.E. Thomázia Montoro

“Foi um instinto, não esperava isso (o ataque) em uma escola”, disse Cinthia em entrevista ao Estadão. Imagens de câmeras de segurança da escola mostram a professora ao imobilizar o aluno, de 13 anos, com um mata-leão, e impossibilitar que ele continuasse a desferir golpes na professora Ana Célia Rosa, uma das quatro pessoas que ficaram feridas — outra docente, de 71 anos, não resistiu. Enquanto isso, a coordenadora pedagógica Sandra Mendes retirou a faca da mão do aluno.

Cinthia conta que chegou por volta de 6h50 à escola na segunda-feira, o dia do atentado. Após ter pegado o material na sala administrativa, foi ministrar uma aula para o 7º ano. Pouco depois, começou a ouvir um barulho alto vindo de fora. “Até pensei que fosse a dinâmica que algum professor estivesse utilizando, porque às vezes a gente faz rodas de conversa entre alunos e afasta as carteiras”, disse. “Mas o barulho não cessava, não passava, estava continuando.”

Cinthia fechou a porta e foi correndo em direção às escadas. A professora explica que a escola tem dez salas de aula: cinco no andar de baixo, onde ela estava dando aula, e a mesma quantidade em cima, de onde vinham os gritos.

A professora diz que hesitou por alguns segundos, mas que ainda assim decidiu ir aonde tinham dito que estavam ocorrendo os ataques: na terceira sala do corredor. Segundo a polícia, o atentado teve início lá — local onde a professora Elisabeth Tenreiro foi assassinada —, depois o agressor teria se dirigido a uma segunda sala e, na sequência, voltado ao local onde tinha começado.

Aluno

“Fui lá e, quando olhei de frente, vi a professora Elisabeth deitada no chão. E a Ana Célia estava com ele, que estava segurando a Ana Célia e esfaqueando a professora”, disse Cinthia. “Aí eu tentei parar, fui por trás e o segurei. E aí minha coordenadora, Sandra Mendes, já entrou na sequência. Falei a ela: ‘Tira a faca, tira a faca, tira a faca’. Ela tirou a faca dele e abaixou a máscara. Retirou a touca e viu que era nosso aluno.”

Essas imagens foram capturadas pelas câmeras de segurança da escola. Cinthia conta que, na sequência, ela e o aluno se desequilibraram e caíram no chão, mas a professora continuou imobilizando-o. “Perguntei a ele: ‘Você tem mais alguma coisa? Está com mais alguma arma?’. Ele falou que não. Perguntei se estava sozinho, ele disse que sim. Aí já levantei e o levei lá para fora para a gente descer para a sala da direção da escola.”

A professora disse ter mantido o aluno por lá até a chegada da Polícia Militar, minutos depois. Nesse meio-tempo, Cinthia disse que foram poucas as palavras que o aluno disse. “Eu lembro que algumas coisas ele até falou, que queria vingança por causa de bullying, ele falava que já queria fazer isso por algum problema com a família, alguma coisa assim ele falou”, afirmou.

Cinthia conta que, quando entrou na sala de aula para conter o agressor, não conseguiu determinar qual era o estado de saúde das professoras. “Eu só queria tirar ele dali, fui para tirar ele dali. Não me atentei de fato se a professora Beth (Elisabeth Tenreiro) estava desmaiada”, disse.

Só depois, conta a docente, ela foi ter a dimensão do que tinha acontecido na escola. Um dia depois do enterro de Elisabeth Tenreiro, ela relembra a professora com carinho. “Ela era bastante comunicativa, a gente se falava sempre”, diz. “Logo que ela entrou na escola, estava sem armário ainda. E eu falava a ela para pôr as coisas no meu. Aí a gente compartilhou por um tempo o armário.”

Heroína

Ainda na segunda, após a repercussão das imagens de Cinthia e Sandra ao conter o agressor, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, chamou as duas de “heroínas”. “Eu não me enxergo dessa forma. Acho que a nossa função como professora é poder auxiliar os alunos em tudo o que é possível”, diz ela, e descreve o autor dos ataques como introspectivo.

Antes de lecionar, ofício que exerce há quase cinco anos, Cinthia dedicou a carreira ao basquete e deu aulas na Fundação Casa, para onde o agressor foi encaminhado. Ela diz que não pretende se deixar desanimar de dar aula. “Eu penso que tenho que ter força. A gente cria planos, cria sonhos; infelizmente, esse é um processo muito grande”, diz. “Voltar depois do que aconteceu não é uma readaptação tão simples. Eu perdi uma companheira de trabalho diretamente. Não posso falar que vai ser fácil, que vai ser difícil, mas eu estou disposta a tentar.”

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