O ex-caminhoneiro Izael de Souza Junior, 35, o “Cabeça”, é apontado como o chefe do esquema para envio de grandes cargas de cocaína da fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai para São Paulo e Rio de Janeiro.

A reportagem apurou que ele foi preso na terça-feira (19) no âmbito da Operação Akã, deflagrada pela Polícia Federal e pela PRF (Polícia Rodoviária Federal). Residente no Jardim Mônaco, em Dourados (a 251 km da Capital), onde a quadrilha opera, Izael foi localizado em Campo Grande. Outros dois investigados foram presos, mas seus nomes não foram revelados.

Conforme dados apurados pela reportagem, Izael é “discreto e bem organizado”. Ao contrário dos traficantes que circulam em caminhonetes caras usando correntes de ouro “de entortar o pescoço”, Izael era avesso à ostentação e usava carros populares. No ano passado, chegou a ter problemas com a Justiça ao evitar a apreensão do Toyota Etios de sua mulher, que estava com parcelas do financiamento atrasadas.

Cargas de carne

Entretanto, o perfil discreto contrasta com seu grande poder de articulação para despachar cargas milionárias de cocaína. Exímio conhecedor da rotina das estradas pelo tempo em que trabalhou como caminhoneiro, Izael teria montado logística bem estruturada e eficiente para camuflar a droga em cargas lícitas e despistar a polícia.

Foi o que aconteceu com a carga de 493 quilos de cocaína apreendida pela PRF no dia 16 de setembro de 2022, o “marco zero” da investigação que culminou com a prisão do “01” (chefe) do esquema criminoso.

A droga em estágio puro estava em sacos plásticos, embaixo de carnes congeladas transportadas em um caminhão frigorífico. O motorista, Juarez Barbosa Ribeiro, 46, confessou que havia sido contratado por R$ 20 mil para levar a cocaína até o interior de São Paulo.

Juarez alegou que seria a primeira vez que levava cocaína entre carnes congeladas. Entretanto, a quebra de sigilo dos celulares apreendidos com ele revelou que o motorista fazia parte da organização criminosa voltada ao tráfico de drogas.

Viaturas da PF e da PRF em um dos locais onde mandados foram cumpridos – Divulgação

“Cabeça”

Segundo documentos aos quais a reportagem teve acesso, entre as conversas encontradas nos celulares estavam diálogos com um certo “Cabeça”, chamado por Juarez de “patrão”.

Nas conversas, “Cabeça” orientava o motorista sobre as rotas, pedia que tomasse cuidado com a organização da carga lícita para não chamar atenção da polícia e até determinava a velocidade e os horários em que o caminhão deveria circular.

“Na troca de mensagens é possível notar também que o entreposto para entrega do material ilícito era de conhecimento de ‘Cabeça’, quem, portanto, exercia a função de coordenar a viagem de Juarez, organizar a carga e contratar e pagar motorista para tal transporte”, afirma trecho da denúncia apresentada no dia 17 de novembro do ano passado pelo promotor de Justiça Claudio Rogério Ferreira Gomes.

Ainda segundo a denúncia, feita com base na investigação policial, para não levantar suspeitas a respeito do material ilícito, a cocaína era carregada após o fechamento da carga lícita e retirada dos caminhões antes da entrega da carne. Todo o procedimento era feito com bastante cuidado, para respeitar requisitos de controle, entre eles a colocação de lacres.

“Laranja”

Outro acusado de integrar a quadrilha chefiada por Izael de Souza Junior é Márcio Luiz Freire, 46, morador em Douradina, cidade a 192 km de Campo Grande e a 38 de Dourados. A reportagem apurou que ele foi alvo de mandado de busca na terça-feira, durante a Operação Akã (cabeça, em guarani).

Márcio Freire também foi denunciado pelo Ministério Público por envolvimento com a carga de quase meia tonelada de cocaína apreendida em setembro do ano passado. Segundo o MP, Freire atuava como “laranja” da organização, recebendo caminhões em seu nome e cedendo-os para transporte de droga.

O caminhão frigorífico apreendido com a cocaína estava registrado em nome dele, mas, ainda conforme a denúncia, no depoimento à Polícia Federal, Márcio Freire não conseguiu informar de quem comprou o veículo e também não esclareceu exatamente como fez o pagamento.

“Alegou não se recordar o nome e não ter o contato telefônico da pessoa/empresa da qual adquiriu o caminhão trator HSX4B41, apesar de ter afirmado que comprou de um antigo conhecido, com quem já havia negociado outro caminhão anteriormente”, afirma a denúncia.

Segundo a investigação, na delegacia, o motorista Juarez Barbosa Ribeiro alegou não ter conhecimento de que Márcio Freire seria seu contratante, já que todas as negociações eram feitas com “Cabeça” (Izael de Souza Junior). Para o MP, Márcio Freire seria apenas “mero proprietário legal do caminhão com o objetivo de ocultar o real dono do veículo usado para o tráfico de drogas”.

Nova versão

No depoimento em juízo, no entanto, Juarez mudou a versão e disse que trabalhava para Márcio, “há uns três quatro meses”, mas que falava pouco com ele e que seu contato era mais frequente com o funcionário da transportadora responsável em gerenciar as cargas de carne. Sobre o transporte da droga, disse que havia sido contratado por homem identificado pelo apelido de “Saveirão”, morador no Jardim Água Boa, em Dourados.

Também em juízo, Márcio Freire afirmou que possui empresa de transportes desde 2012 e que na época da apreensão tinha apenas o caminhão apreendido. Alegou ter comprado o veículo em uma garagem de Campo Grande, por R$ 160 mil, após a venda de outro caminhão que tinha. Entretanto, Freire não apresentou documentos comprovando as transações.

“É infactível que o acusado, com suposta experiência no ramo de cargas e caminhões, não tenha zelado por documentação de transações vultosas, a tudo indicando que se trata de um ‘laranja’ na aquisição de veículos para o tráfico de drogas em grandes cargas, utilizando de transportes lícitos por interpostas cooperativas, para fins de transportar drogas ilícitas”, afirmou o juiz Marcelo da Silva Cassavara, da 1ª Vara Criminal de Dourados.

No dia 9 de maio deste ano, o magistrado condenou o caminhoneiro Juarez a 13 anos e 10 meses de reclusão em regime inicialmente fechado. Ele segue preso na PED (Penitenciária Estadual de Dourados).

Márcio Luiz Freire foi condenado a 6 anos e 9 meses de reclusão, também em regime fechado. Como aguardava as investigações em liberdade, ele continuou solto e entrou com recurso contra a condenação alegando falta de provas de seu envolvimento com o narcotráfico.

A quebra de sigilo dos celulares apreendidos com o caminhoneiro revelou pelo menos outras oito pessoas envolvidas com o esquema liderado por Izael de Souza Junior. Todas estão sendo investigadas, inclusive o sogro dele, suspeito de ser “laranja” na ocultação de patrimônio.

*Com informações do Campo Grande News

 

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